quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nos tempos do medo

Quando eu tinha medo eu não me jogava com tanta força na vida. Por isso, as rachaduras que todos nós ganhamos por vivê-la em plenitude, em mim não eram tão grandes. Mais pareciam pequenas infiltrações que gotejavam de quando em vez.
Olhos fechados, braços abertos, peito exposto, talvez um excesso de transparência.
Depois que abandonei o medo as cicatrizes nunca se fecharam e foram somando-se umas as outras e formando um vão... uma não muito pequena cratera que passou a me compor. Um pedaço intransponível, ou quem sabe indispensável.
De tanto viver sem medo, agora guardo comigo o medo maior de que esse vão nunca se feche completamente, e, de tanto jorrar, acabe me esvaziando de vez.

Karolyne Gilberta

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Desejar é bom

Desejar é bom, principalmente quando você sabe que o que te separa de seu objeto de desejo é apenas o tempo da espera.
O caminho fica mais fascinante a cada tiquinho que a espera encurta.

K. G.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Verbos



Acostumada com fartura e abastança
Conjugava os verbos sempre no plural
Em seus amores tinha muitos amares
Ou era o inverso, não sabia ao certo.

Karolyne Gilberta.

S



Encantada por mulheres e seus lindos peitos
Suas curvas de morte e de tentar a sorte
K. G.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A vida sexual de Catherine Millet

Desaparecer durante dois dias em companhia de um homem que eu mal conhecia, ou, como aconteceu durante muitos anos, manter um relacionamento permanente com um colega que morava em Milão, valia tanto pela viagem e pela mudança de país, quanto pela promessa de ser fodida, tocada e enrabada de um jeito diferente do que estava acostumada. Se fosse possível, eu gostaria de abrir os olhos a cada manhã à sombra de um teto ainda inexplorado e, ao sair de baixo dos lençóis. ficar alguns segundos vacilante na terra de ninguém de um apartamento no qual, desde a véspera, eu desconhecia a direção em que se encontrava o corredor que levava ao banheiro. Neste momento, apenas o outro corpo que está estendido por trás de nós e que conhecemos há apenas algumas horas, mas que nos alimentou durante todo este tempo com sua consistência e seu odor, nos proporciona o inefável bem-estar do contato familiar. Quantas vezes já não pensei. quando fabulava sobre a vida das prostitutas de luxo, que esta era uma vantagem da profissão.
 
Trecho de A vida sexual de Catherine Millet.
Catherine Millet.
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Soul


Flores no cabelo
A alma lavada
Coração cheio de amores
Ela passa como quem nada teme
Bailando ao som de seus versinhos
Toda prosa e pomposa
Vento pelas ventas
Olhos fixos no horizonte
Coberta de cores
Cantarolando pequenas cantigas doces
Uma vida toda pela frente


Karolyne Gilberta.