quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Estigma



Era considerada pelas boas moças uma destruidora de lares... Uma verdadeira corruptora dos bons costumes e da  moral.
O balançar diário de suas saias incomodava uns tantos, atiçava o imaginário de tantos outros.
Não se sabe ao certo se era seu largo sorriso, seus seios fartos e empinados, sua pele tomada pelo sol ou seus dentes alvos cobertos por lábios rosados e carnudos. Tudo era motivo de agrado e desagrado. 
Uma santa, uma puta, uma desavergonhada, alvo dos desejos sórdidos de inúmeros!
Desejavam-na, odiavam-na, mas  no fim das contas, todos esperavam o momento que suas saias esvoaçantes passariam diante de seus olhos atentos.
E ela seguia distante na rotina alheia como se nem fizesse parte daquilo tudo, afinal de contas, era o imaginário do povo. Nada que ela pudesse controlar.


Karolyne Gilberta

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Senti saudades disso [escrita e leitura de bons conteúdos em blogs] mas o tempo e a disposição não tem sido os mesmos.


Vou voltando devagarinho, quem sabe acabe voltando de vez.
Meu carinho sincero aos que escrevem e leem por amor/prazer.

Ambiguidades

Tem pessoas que são capazes de transformar pequenas circunstâncias em um verdadeiro duelo de titãs

Pessoas que gostam de causar problemas, gostam de SER o problema.
Ainda me surpreendo com este tipo de gente e de comportamento. Só não me surpreendo mais que com o fato de atrair esse tipo de gente.

Problemas, problemas, problemas...
Nunca se esgotam em si mesmos.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Parte III - A Cidade do Sol

 No trajeto de volta para casa, apoiada em Mariam, Laila podia ouvir os gritos apavorados da filha. Revia nitidamente a cena: as mãos grandes e calosas de Zaman segurando a menina pelos braços, puxando-a, a princípio com brandura, depois, com mais vigor, e, finalmente, com força, para fazê-la soltar a mãe. Via Aziza, nos braços do diretor, dando chutes e pontapés, enquanto ele a levava às pressas para algum lugar; e ouvia a menina gritar como se fosse desaparecer da face da terra. E via a si mesma, correndo pelo corredor, de cabeça baixa, com um berro lhe subindo pela garganta.
 — Sinto o cheiro dela — disse a Mariam quando já estavam em casa. Seus olhos fitavam o vazio, por sobre os ombros de Mariam, para além do quintal, dos muros, na direção das montanhas, escuras como uma cusparada de tabaco. — Sinto o cheiro dela dormindo. Você também sente? Sente o cheiro dela?

sábado, 30 de abril de 2011

Parte II - A Cidade do Sol IV

 Com o passar do tempo, foi aos poucos se cansando desse exercício. Começou a achar cada vez mais exaustivas essas tentativas de evocar, de desenterrar, de ressuscitar mais uma vez o que há muito tinha morrido. Na verdade, anos mais tarde, chegaria o dia em que Laila não choraria mais por essa perda. Ao menos, não tanto; não tão constantemente. Chegaria o dia em que os detalhes daquele rosto começariam a escapar às garras da memória, em que o simples fato de ouvir uma mãe chamando o filho de Tariq pela rua não a deixaria inteiramente desnorteada. Não sentiria tanta falta dele como agora, quando a dor de sua ausência não a deixava em paz por um momento sequer — como a dor fantasma de um membro amputado.
 Depois de adulta, só muito raramente, quando estava passando uma camisa ou empurrando os filhos no balanço, alguma coisa bem banal, talvez o contato quente do tapete sob os pés num dia de calor, ou o contorno da testa de um estranho, trazia à tona a lembrança daquela tarde. E, de repente, tudo voltava à sua mente. A espontaneidade daquele momento. A espantosa imprudência dos dois. Sua falta de jeito. A dor, o prazer, a tristeza daquele ato. E o calor de seus corpos abraçados.
  Aquela lembrança a inundava, chegando a lhe tirar o fôlego. Mas passava. O momento passava. Deixando-a vazia, sentindo apenas uma vaga inquietação. Chegou a conclusão que ele tinha perguntado "Estou machucando você?" Isso mesmo. E ficou feliz por ter se lembrado.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Parte II - A Cidade do Sol III

Naquele instante, tudo o que mammy tinha dito sobre reputação e mainás lhe pareceu absolutamente insignificante. Até mesmo absurdo. No meio de tanta matança e de tantas pilhagens, de todo aquele horror. Aquele beijo ali debaixo de uma árvore não podia fazer mal algum. Era uma coisinha à toa. Uma indulgência facilmente desculpável. Então, deixou que Tariq a beijasse e, quando ele se afastou, Laila se inclinou para beijá-lo, com o coração aos pulos, o rosto ardendo, um fogo queimando por dentro.


terça-feira, 19 de abril de 2011

Parte II - A Cidade do Sol II

 De quando em quando, ao ver os olhares tristonhos das pessoas naquela sala, Laila percebia a intensidade do desastre que se abateu sobre sua família. As possibilidades negadas. As esperanças frustradas.
 Mas o sentimento não durava muito. O difícil era sentir, sentir de verdade, a perda de mammy. Não era fácil tentar experimentar a tristeza, sofrer pela morte de gente que ela nunca tinha considerado viva.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Parte II - A Cidade do Sol

Quando ouvia essas histórias, Laila percebia nitidamente que tinha havido uma época em que a mãe falava sempre de seu pai nesses termos. Uma época em que seus pais não dormiam em quartos separados.
E a menina adoraria ter vivido esse tempo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A Cidade do Sol IV

Quando pensava no bebê, seu coração crescia no peito. Crescia e crescia até que todas as tristezas, as dores, a solidão e o sentimento de inferioridade que haviam povoado a sua vida
desapareciam por completo. Foi para isso que Deus a trouxe até aqui, fazendo-a atravessar o país de um lado a outro. Agora, sabia disso. Lembrou de um versículo do Corão que o mulá Faizullah tinha lhe ensinado: "A Allah pertencem o leste e o oeste, e para onde quer que vos volteis lá encontrareis a face de Allah..." Ajoelhou-se no tapete de orações e fez suas namaz. Quando terminou, escondeu o rosto com as mãos e pediu a Deus que não deixasse toda essa felicidade lhe escapar.

 

A DOR CONTINUAVA A SURPREENDER MARIAM. Bastava ela pensar no berço inacabado, ali no galpão do jardim, ou no casaco de camurça guardado no armário de Rashid. Com isso, o bebê ganhava vida e ela podia ouvi-lo, podia ouvi-lo resmungar, com fome, podia ouvir seus murmúrios e seus balbucios. Sentia a criança farejando os seus seios. Aquela dor a invadia, a dominava, revirava todo o seu ser. Mariam estava estarrecida: como podia sentir tanta saudade de alguém que jamais tinha chegado a ver?

...

Mas a dor de Mariam não era vaga e indeterminada. Estava sofrendo por aquele bebê, aquela criança em particular, que, por algum tempo, a tinha feito tão feliz. Às vezes, achava que o bebê tinha sido uma bênção que ela não merecia, e que estava sendo punida pelo que tinha feito a Nana. Pois não era exatamente como se ela mesma tivesse posto a corda no pescoço da mãe? Filhas ingratas não merecem ser mães, e o castigo era justo. De quando em quando, sonhava que o jinn de Nana vinha ao seu quarto, a noite, se arrastando, para abrir sua barriga com as
garras e roubar o seu bebê. Nesses sonhos, Nana ria muito, deliciada com aquela vingança.

...

A culpa era de Deus, por zombar dela daquele jeito. Por não lhe conceder o que concedia a tantas outras mulheres. Por acenar para ela, de forma tão sedutora, com a coisa que a deixaria mais feliz e, depois, voltar atrás.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Cidade do Sol III

Adoraria que a mãe estivesse viva para ver isso. Para vê-la em meio a tudo isso. Para ver, enfim, que alegria e beleza não são coisas inatingíveis. Mesmo para gente como elas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Motivos para não se misturar sexo e amizade!

Depois de dormir com Harry durante todos esses anos aprendi a duras penas que trepar com os amigos, na melhor das hipóteses, sempre acaba em confusão de algum tipo e muitas complicações. No mínimo, alguém sai magoado ou se sente constrangido para continuar a amizade. Já perdi um amigo - um triste sacrificio por uma noite (ou noites) de paixão - e não pretendo fazer isso de novo.
A vida real não é um cinema, onde dois grandes amigos acabam fazendo sexo. Na vida real há constrangimento, nervosismo e insegurança, e quando você acorda na manhã seguinte percebe que sua amizade nunca mais será a mesma. Na vida real você perde uma amizade de vinte anos porque vocês beberam juntos e foram para a cama. Na vida real você fica nervosa por estar junto de um homem, embora durante a infância dormisse na mesma cama com ele. Na vida real você não tem certeza se seu amigo está olhando para você porque quer tirar sua roupa ou porque acha que sua saia nãolhe cai bem. Na vida real não se deve ultrapassar os limites estabelecidos, sexo e amizade devem ser mantidos à parte.


A garota que só pensava naquilo.
Abby Lee

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Cidade do Sol II

Mariam se virou e foi se dirigindo para a porta do ônibus. Ouviu os passos dele às suas costas. Quando já estava quase entrando, ele a chamou: 
— Mariam jo!
Ela subiu os degraus e, embora pudesse vê-lo ao seu lado com o rabo do olho, não olhou pela janela do veículo. Foi caminhando pelo corredor até o fundo do ônibus, onde Rashid estava sentado com a mala dela entre os pés. Não se moveu quando viu as mãos de Jalil na vidraça, quando os seus dedos bateram no vidro várias vezes. O veículo arrancou, e ela nem se virou para vê-lo correndo ao seu lado. E, quando partiram, não olhou para trás para vê-lo desaparecer na nuvem de poeira e de fumaça do
cano de descarga.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Acho que me tornei uma maníaca sexual

Querido Deus,
Eu sei que não temos um relacionamento próximo, e isso porque não acredito emvocê, mas pondo esse fato de lado por um instante, eu gostaria de conversar um pouco.
Tenho uma reclamação a fazer. Não é sobre o tsunami que ceifou tantas vida. Nem sobre milhões de pessoas que foram expostas ao HIV e AIDS por terem seguido o dogma sem sentido do Vaticano. Nem tampouco sobre a forma como partes imensas desse planeta estão morrendo devido ao desperdício desnecessário e ao egoísmo dos seus participantes. Não, é sobre um assunto muito mais importante: acho que me tornei uma maníaca sexual.





Claro que não fui eu quem escreveu isso.
=D
Trecho de A Garota que só pensava naquilo.
Abby Lee
[sou fã incondicional de literatura erótica]

Sobre mortos nem tão mortos assim

— E aquela história de não falar mal dos mortos?
— Na minha opinião, tem gente que nunca está morta o bastante — disse ele.


....







— Já faz quase vinte anos que ele morreu — disse Laila. — Será que morrer uma vez só não basta?


Khaled Housseini
Trecho de A Cidade do Sol

domingo, 3 de abril de 2011

Pela real humanização do ser humano

Revisitando a nossa própria história temos obrigações com a construção ao menos de uma sociedade de menos barbárie e a necessária preservação das lembranças que insistem em nos dizer: ...A ninguém é dado o direito de esquecer os terríveis colares de orelhas humanas que eram ostentados pelos caçadores de escravos ou as marcas de ferro em brasa que marcavam os negros ou os ganchos de ferro que atravessavam as costelas das negras e as penduravam para sangrar até morrer... A ninguém é permitido esquecer das pequeninas mulheres menininhas pobres que têm suas virgindades leiloadas e são estupradas pelos políticos bandidos e autoridades vagabundas de Alagoas ou em qualquer outro pedaço de terra deste planeta... ... A ninguém é concedido o poder de humilhar com palavras chulas e vulgares ou esbofetear, mutilar e assassinar alguém por sua orientação sexual ou por sua relação homoafetiva... A ninguém deverá ser possível fingir que não viu o mendigo ou morador de rua ou índio em chamas, todos assassinados porque eram o retrato da triste e angustiante miséria humana...

 

Heloísa Helena

A Cidade do Sol

— Volte! Não! Não olhe agora. Vire-se! Volte! Mas foi em vão.
Mariam viu assim mesmo. Uma rajada de vento afastou as folhagens do salgueiro-chorão, como se abrisse uma cortina, e a menina avistou de relance o que estava do outro lado: a cadeira de encosto alto, caída no chão. A corda pendendo de um ramo mais alto. E Nana pendurada na outra ponta.

...

Para cada tribulação e cada sofrimento que Deus nos faz enfrentar, Ele tem um motivo.
Mas Mariam não conseguia perceber consolo algum nas palavras de Deus. Não naquele dia. Não naquele momento. Tudo o que podia ouvir era a voz de Nana dizendo: "Se você for, eu morro. Simplesmente morro."
Aiai
Fiquei tanto tempo sem postar aqui que meus textos agora são escritos em agendas, cadernos, folhas de embrulho... alguns simplesmente se perdem na memória... perdi o costume.
Todos falando muito de meu cotidiano, minhas angústias, minhas tensões diárias, minha vida de verdade.
Por ora sem condições e sem tesão também de postá-los aqui!!
Quem sabe um dia eu volte e publique algo mais, se não...