domingo, 26 de setembro de 2010

Sarcastic Existence

It could not think anymore
Thoughts of times of sanity
The world was isolated
Where the sun would salute him
And the night was violent
Fear and guilt
Invade the corners of the room
Pain was felt constantly
They keep on destroying

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Epigrama

"Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada."


La Fontaine.



Madame Bovary (IV)

- Tenho uma religião, a minha religião, e até tenho mais que todos eles com as suas momices e imposturas! Pelo contrário, creio em Deus! Creio no Ser Supremo, num criador, seja Ele quem for, pouco importa, que nos pôs neste mundo para cumprir os nossos deveres de cidadãos e chefes de família; mas não tenho necessidade de ir a uma igreja beijar salvas de prata e engordar à minha custa uma cambada de farsantes que vivem melhor do que nós! posso honrar a Deus da mesma maneira num bosque, num campo, ou até contemplando a abóbada etérea, como os antigos. o meu deus é o mesmo de Sócrates, de Franklin, de
Voltaire e de Béranger! Eu sou pela profissão de fé do vigário saboiano e pelos princípios imortais de 89! Por isso não admito que deus seja assim um sujeito que anda a passear no seu jardim de bengala na mão, instale os seus amigos no ventre das baleias, morra soltando um grito e ressuscite ao cabo de três dias: Coisas absurdas por si mesmas e completamente opostas, além disso, a todas as leis da física; diga-se de passagem que tudo isso prova que os padres estagnaram sempre numa torpe ignorância, onde se esforçam por atolar também as populações.

Madame Bovary (III)

Mas era principalmente às horas das refeições que já não podia mais, naquela pequena sala do rés-do-chão, com o fogão a deitar fumo, a porta a ranger, as paredes a ressumar, as lajes húmidas; parecia-lhe que no seu prato era servida toda a amargura da sua existência e, com o fumegar do cozido, subiam-lhe do fundo da alma outros vapores de tédio.

Madame Bovary (II)


Nos seus desejos, ela confundia as sensualidades do luxo com as alegrias do coração, a elegância dos costumes com as delicadezas do sentimento. Não precisaria o amor, como as plantas da Índia, de terrenos preparados, de uma temperatura determinada? Os suspiros ao luar, os abraços prolongados, as lágrimas correndo sobre as mãos que se abandonam, as febres da carne e a languidez da ternura não podem pois separar-se da varanda dos grandes palácios onde há muito tempo de lazer, ou de uma antecâmara com reposteiros de seda e uma espessa alcatifa, jardineiras bem enfeitadas e um leito sobre um estrado, ou ainda do cintilar das pedras preciosas e dos alamares das librés.

sábado, 11 de setembro de 2010

Antes Ébrio

Enquanto Baco me possui,
Os meus desgostos dormem, sós.
Mais rico julgo-me que os Cresos
E desafio em canto e voz:
Deitado e de heras coroado,
Desprezo a todo o desprazer.
Quem lá quiser que se arme de ódios
Porque eu prefiro é bem beber!...
Traz-me uma taça, ó moço escravo!
Que, certamente, há mais conforto
E é bem melhor se estar deitado
Por estar ébrio do que morto!
 
 
Anacreonte

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Amor é síntese

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese

É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

Mário Quintana

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A raposa e o gato

Um dia, o gato encontrou a raposa no bosque e disse para si mesmo: vou cumprimentá-la. Ela é tão inteligente, tão experiente, tão respeitada por todo mundo...

E fez uma saudação amigável:

— Bom dia, querida Dona Raposa! Como tem passado? Como tem levado a vida, agora que as coisas andam tão caras?

A raposa ficou inchada de orgulho. Olhou o gato de alto a baixo e levou algum tempo para resolver se respondia ou não.

Finalmente disse:

— Dobre a língua, seu patife lambedor de bigodes, seu palhaço de meia-tigela, seu pilantra caçador de ratos, você não se enxerga? Quem você pensa que é? Como ousa me perguntar como eu tenho passado? Quem é você? Que é que você sabe? O que aprendeu? Que artes domina?

— Só uma — respondeu o gato, modestamente.

— E qual é, se mal pergunto?

— Quando os cachorros correm atrás de mim, consigo escapar, subindo numa árvore.

— Só isso? — disse a raposa. — Pois eu sou senhora de mil artes e além disso tenho um monte de truques que dariam para encher um baú... Fico de coração apertado só de pensar como você é indefeso. Venha comigo, vou lhe ensinar a escapar dos cachorros.

Justamente nesse momento, apareceu um caçador com quatro cachorros. O gato deu um pulo rápido para o tronco de uma árvore e foi lá para cima, para o meio da copa, onde as folhas e os galhos o esconderam por completo.

— Abra o baú, Dona Raposa, abra o baú! — gritava o gato.

Mas não adiantou nada. Os cachorros já tinham agarrado a raposa, que estava bem presa e imóvel nas patas deles.

— Que pena, Dona Raposa! — disse o gato. — Veja a encrenca em que a senhora está, com todas as suas mil artes. Se pelo menos soubesse subir em árvores, como eu, salvava sua vida...

O livro das ignorãças

I

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Porque é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toda de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre dois jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre dois lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro
etc
etc
etc
desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.


Uma didática da invenção, O livro das ignorãças. Manoel de Barros.

O fardo dos dias...

E haveria punição maior para ela que carregar durante toda sua vida o fardo de ser quem era?

Madame Bovary

Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, lhe haviam parecido tão belas.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A arte de Amar


“Lança mão de todos os recursos para a conquista. Não terás muito trabalho para seres acreditado: qualquer uma se julga digna de ser amada; por mais feia que seja, não há uma que não aprecie a própria beleza.”
 
....

“Não prometas com timidez: as promessas é que prendem as mulheres; invoca o testemunho de todos os deuses que quiseres.”

Ovídio

Pensamentos

Ao escrever o meu pensamento, ele às vezes me escapa; mas isso me faz lembrar da minha fraqueza, que a todo instante esqueço; isso me instrui tanto quanto o meu pensamento esquecido, pois minha tendência consiste apenas em conhecer o meu nada.



Blaise Pascal.
“É mais vergonhoso desconfiar dos amigos que ser por eles enganado.”

 LA ROCHEFOUCAULD

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dúvida Cruel


Composição: Chico César / Itamar Assumpção

No meu cérebro crepita
uma dúvida martelo
minha alma se agita aflita
tragédia grega desdita
flagelo dor pesadelo.

Arranca os meus cabelos
e como se fosse praga
adaga no cotovelo
golpeia meu cerebelo
o meu coração esmaga.

Será que ela me ama
e tudo isso terá nexo
ou será que não passará
só de mesa fama sexo?

Será que terá nexo
será que ela me ama
ou será que não passará
só de sexo mesa fama?


Cada dia gosto mais do trabalho de Chico César... estou conhecendo aos poucos e me apaixonando sempre mais!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Oscar Wilde [8]


"Dorian, não se iluda. A vida não é regida pela vontade
ou pela intenção. A vida é uma questão de nervos, e fibras, e
células que se formam lentamente, e onde o pensamento se
oculta e a paixão constrói os seus sonhos. Você pode
imaginar-se seguro, e considerar-se forte. Mas a tonalidade
ocasional de um quarto ou de um céu matutino, um certo perfume
de que um dia gostou e que traz consigo subtis recordações, um
verso de um poema esquecido que reencontrou, a cadência de uma
música que deixou de tocar... são essas as coisas, Dorian, de
que dependem as nossas vidas."

O Retrato de Dorian Gray




Estamos irremediavelmente presos ao passado
Que será feito de nós sem as lembranças que nos acompanham?
Que seremos nós sem arrastar os fantasmas que nos dão vida e motivo para não soltarmos as tábuas que nos empurram para o fundo do oceano?
Se nos tiram os grilhões que nos prendem ao passado que motivo teremos para lamentar ou nos deliciar?
Viver realmente é arte e ofício para poucos...talvez para os fortes...talvez para os bobos.

Karolyne Gilberta

Oscar Wilde [7]

Gostaria que me dissesse o seu segredo. Para reaver a minha juventude, eu faria tudo no mundo, excepto ginástica, levantar-me cedo, ou ser uma pessoa respeitável.








*somos dois.
=D

Oscar Wilde [6]


A alma é uma realidade terrível.
Pode ser comprada, e vendida, e negociada. Envenenada ou
aperfeiçoada. Existe uma alma em cada um de nós. Eu sei.

Surto psicótico "a sombra" de O. W.

Parece que tive um surto psicótico e não consigo parar de postar trechos do livro de Oscar Wilde "O Retrato de Dorian Gray".
A questão é o livro é denso e interessantíssimo. Me tomou mais tempo do que eu esperava na leitura do mesmo, mas me deixou extremamente satisfeita ao chegar ao suposto "fim da linha"/ fim do llivro. Não gosto de coisas óbvias e o livro em questão não é óbvio. Cheio de discussões filosóficas subjetivamente embutidas ao longo do texto é possível ver como Oscar Wilde se projeta em sua obra. Um homem pensante em uma obra que nos levar a pensar junto.
Compondo o grupo dos que foram proibidos de circular e de ser lidos à época da publicação me fascinou desde o início. Adoro livros do tipo. Me dão uma sensação de "transgressão", ainda que tardia.
Na sequência da leitura do livro fui atrás da biografia do autor.
Não gosto de coisas prévias.
Apesar de conhecer trechos de obras dele nunca fui atrás do motivo que o fazia trilhar esse tipo de literatura (coisa de gente que supostamente estuda história: quase tudo tem um porquê). Uma biografia carregada de situações turbulentas. Cheias de carga emocional.
Só me fez ficar mais encantada pela obra e pelo autor.


Deliciei-me de fato.
Acho que é mais ou menos isso.
=)

Tem que acontecer



Tem Que Acontecer

Sérgio Sampaio
 
Composição: Sérgio Sampaio


Não fui eu nem Deus
Não foi você nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida
É pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa
Não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor
É solidão
Se um vai perder
Outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida
E ninguém vai mudar

Eu daria tudo
Pra não ver você cansada (zangada)
Pra não ver você calada (cansada)
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou (sou só) um compositor popular. 





E nao é que blog ajuda a gente a descobrir o verdadeiro compositor das músicas??
Adoro Sérgio Sampaio mas juro que não sabia que essa música era dele. Conhecia por causa do Líricas de Zeca Baleiro mesmo. Boa oportunidade para mim.
^.^

Oscar Wilde [5]

Todo efeito que causamos nos arranja um inimigo. Só é popular a medíocridade.

Oscar Wilde [4]


Mordeu o lábio, apreensivo, por momentos, o olhar entristeceu-se. Mas, afinal, que lhe importava isso? A vida era demasiado curta para sobrecarregar os ombros com os erros dos outros. Cada um vivia a sua vida, e pagava o seu preço por vivê-la. Só era pena que se tivesse de pagar tantas vezes por um único erro. Na verdade, pagava-se vezes sem conta. Nos seus negócios com o homem, o Destino nunca dava as contas por encerradas.
Existem momentos, segundo os psicólogos, em que a paixão pelo pecado, ou por aquilo a que o mundo  chama pecado, domina de tal modo um temperamento que cada fibra do corpo, assim como cada célula do cérebro, parece estar possuída de impulsos temíveis. Em momentos desses, os homens e as mulheres perdem o livre-arbítrio. Encaminham-se, como autómatos, para um fim terrível. É-Lhes retirada a possibilidade de escolha, e a consciência é morta, ou, se conseguir sobreviver, vive unicamente para dar sedução à rebeldia, e encanto à desobediência. Pois todos os pecados, como os teólogos não se cansam de nos lembrar, são pecados da desobediência. Quando esse espírito supremo, essa estrela da manhã do mal, caiu do céu, foi como rebelde que caiu.



O Retrato de Dorian Gray.

Oscar Wilde [3]


- Eu agora nunca aprovo nem reprovo nada.
É uma atitude absurda que se toma em relação à vida.
Não fomos postos neste mundo para divulgar
os nossos preconceitos morais.
Nunca presto atenção ao que dizem as pessoas vulgares,
e nunca interfiro no que fazem as pessoas encantadoras.

Oscar Wilde [2]


Hoje as pessoas temem-se a si próprias. Esqueceram o mais nobre de todos os deveres: o dever que cada um tem para consigo mesmo.
É certo que não deixam de ser caritativos. Dão de comer aos que têm fome e vestem os pobres. Mas as suas almas andam famintas e nuas. A coragem desapareceu da nossa raça. Ou talvez nunca a tivéssemos tido. O temor da sociedade, que é a base da moral, o temor de Deus, que é o segredo da religião - eis as duas coisas que nos governam.


O Retrato de Dorian Gray.

Oscar Wilde


Mas a beleza, a verdadeira beleza, acaba onde começa a expressão intelectual. O intelecto é em si uma forma de exagero e destrói a harmonia de qualquer rosto. Assim que nos sentamos a pensar, ficamos todos nariz, todos testa, ou outra coisa horrenda. Veja esses homens que triunfam em qualquer profissão intelectual. São completamente hediondos! Com excepção, evidentemente, dos homens da Igreja. Mas é que os da Igreja não pensam. Um bispo continua a dizer aos oitenta anos aquilo que lhe mandaram dizer aos dezoito e, como consequência natural, ele mantém-se sempre uma pessoa encantadora. Esse seu jovem amigo tão
misterioso, cujo nome você nunca me revelou, mas cujo retrato me deixa verdadeiramente fascinado, nunca pensa. Tenho absoluta certeza. É uma dessas criaturas belas, sem inteligência, que devia estar sempre aqui no Inverno, quando não temos flores para contemplar, e sempre aqui no Verão, quando necessitamos de algo que nos refresque a inteligência.

O Retrato de Dorian Gray