sábado, 27 de novembro de 2010

Irresistivelmente...

Bem que me avisaram
ficarás sozinha e mal falada
dolorida e abandonada
à mercê dos tubarões
mas não pude resistir.




Marta Medeiros
Poesia reunida

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Alívio

Apresentei meu projeto de pesquisa.
Se ficou bom ou não, só Deus sabe, mas o peso das costas sumiu de uma forma surpreendente.
Foi tão simples e indolor.
Agora outros trabalhos acadêmicos em desenvolvimento... milhões de outras coisas para fazer.
Um certo receio porque é perceptível a expectativa das pessoas. Mas quem está na chuva é para se molhar, então lá vamos nós...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Madamme Bovary (VIII)

Emma, porém, vivia cheia de desejos, de raiva, de ódio. Aquele vestido de pregas escondia um coração revoltado e aqueles lábios tão pudicos não confessavam o seu tormento. Ela estava apaixonada por Léon e procurava a solidão para poder mais à vontade deleitar-se com a sua imagem. a visão da sua pessoa perturbava a volúpia daquela meditação. Emma palpitava ao ruído dos seus passos, depois, em presença dele, desfazia-se-lhe a emoção e, a seguir, só lhe ficava um imenso espanto, que terminava em tristeza.

[...]Então, os apetites da carne, as cobiças do dinheiro e as melancolias da paixão, tudo se confundia num mesmo sofrimento, e, em vez de procurar afastar daí o pensamento, ainda mais se prendia ao mesmo, excitando-se à dor e procurando para isso todas as ocasiões. Irritava-se com um prato mal servido ou com uma porta entreaberta, lastimava-se pelo veludo que lhe faltava, pela felicidade que não tinha, por as suas aspirações serem demasiado elevadas e por a casa ser acanhada de mais.
O que a exasperava é que Charles não dava a impressão de suspeitar do seu suplício. a convicção que ele tinha de a fazer feliz parecia-lhe um insulto imbecil e a segurança que revelava a esse respeito ingratidão. Por causa de quem se comportava ela tão escrupulosamente?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Só para o seu coração

[..]Só para o seu coração
Mais do que este palco iluminado
Eu quero esse delicado
Contato da sua mão

É você que me fica fazendo
Os mais doces carinhos
Roçando esses dedos macios
Assim nos meus lábios
Fazendo com que eu fique quente
Depois de tão frio


Ah, como eu desejo esses seus
Movimentos tão sábios
Emoção é o lado mais doce de nossa energia
E em mim é você que alimenta esta forma de luz
Você é a mulher que me faz infinito na vida
Estrela que me orienta, ilumina e seduz

Mais do que cantar pra o mundo inteiro
Eu quero cantar primeiro
Só para o seu coração[...]

Sérgio Sampaio




Nesse friozinho que me deixa com uma melancolia gostosa, estou aqui ouvindo Sérgio Sampaio e me sentindo nem sei como definir...
Abençoada seja essa chuva que molha o chão da cidade nessa noite maravilhosa e traz essa energia tão boa, tão divinal!

sábado, 13 de novembro de 2010

Naquela mesa

Depois de ler este texto ,no blog do amigo manolo Icaro, não consegui tirar essa música da cabeça.
Também eu gosto tanto dela, e Nelson com sua voz forte, expressiva, me faz gostar ainda mais.


Naquela Mesa
Nelson Gonçalves
Composição: Sérgio Bittencourt 

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim

Assim comia Zaratustra

Os poderosos sempre almoçam comidas gordurosas, bem condimentadas, com molhos pesados, enquanto os fracos ficam beliscando germe de trigo e tofu, convictos de que seu sofrimento lhes renderá uma recompensa na vida após a morte, onde costeletas de cordeiro na grelha fazem o maior sucesso. Mas se a vida após a morte é, como eu sustento*, uma eterna recorrência desta vida, então os mansos terão de jantar eternamente pratos de baixas calorias e frango grelhado sem pele.

Woody Allen
Trecho do conto "Assim comia Zaratustra" do livro Fora de Órbita.


*Eu também.
Amém, Senhor!

Glória, Aleluia! Vendido!

- Ei chefe - latiu o autor desconcertado -, um cara em Akron quer uma prece para que a mulher dele lhe dê um filho. Eu estou empacado, sem conseguir achar um caminho.
- Ah, esqueci de lhe dizer - explicou-me Moribundam. - Pouco tempo atrás eu acrescentei um novo serviço em que personalizamos as preces. Adequamos os textos às necessidades individuais do coitado e lhe enviamos alguma súplkica feita sob medida. - Em seguida, voltando-se para o acólito, urrou: - Tente isto: "Que a semente se deposite em pastagens verdejantes e os rebentos brotem em abundância."
- Excelente, M. M. - disse o escritor. - Eu sabia que se estava empacado numa expressão sagrada...
- Não, espere aí - interpus-me, de súbito. - Ponha assim: "Que ela multiplique frutíferamente."
- Ei - disse Moribundam - Você conhece o caminho das pedras. Esse garoto é fera. - Eu estava me aquecendo ao sol do elogio, quando o telefone tocou. Moribundam pulou sobre ele.
- Santo Moe, Moribundam, o Agente de Preces falando. O quê? Lamento, senhora. Tem que falar com o nosso setor de reclamações. Não damos garantia de que o Senhor irá proporcionar tudo o que a senhora quer. Ele só pode jogar com as cartas que tem na mão. Mas não desanime, meu anjo. Você ainda pode achar seu gato. Não, nãoi devolvemos dinheiro. Leia as letras miúdas do seu contrato de confirmação de prece. Soletre com calma as nossas responsabilidades e as Dele. Porém o que faremos é enviar-lhe bençãos de cortesia, e, se a senhora for à Lobster Grotto no Queens Boulevard e lhes disser que Deus mandou a senhora lá, ganhará um coquetel grátis. - Moribundam desligou. - Todo mundo está no meu pé[...]

Woody Allen
Trecho do conto 'Glória, Aleluia! Vendido! do livro Fora de Órbita.


Nos tempos em que pessoas compram, vendem e jogam com a fé, nada mais atual que a história brilhantemente criada por Woody Allen neste texto.
Se há quem venda, é por que há quem compre.
Numa sociedade de consumo não me espanta que até a fé seja cada dia mais barganhada e vendável/vendida.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Madamme Bovary (VII)

Léon torturava-se para descobrir a maneira de lhe fazer a declaração, e, hesitando sempre entre o medo de lhe desagradar e a vergonha de ser tão pusilânime, chorava de desânimo e de desejo ao mesmo tempo. Depois tomava decisões enérgicas, escrevia cartas que rasgava em seguida, marcava datas que depois protelava. muitas vezes, metia-se a caminho com o projecto de se atrever a tudo, mas depressa abandonava a resolução na presença de Emma e, quando Charles, ao chegar, o convidava a subir para a carruagem e ir com ele ver algum doente nos arredores, aceitava imediatamente, despedia-se de Emma e partia. O marido não era, afinal, qualquer coisa que fazia parte dela?
Quanto a Emma, não se interrogava a si mesma para saber se o amava. O amor, segundo acreditava, devia surgir de repente, com grande tumulto e fulgurações - tempestade dos céus que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como folhas e arrebata para o abismo o coração inteiro. Não sabia que, nos terraços das casas, a chuva forma lagos quando as goteiras estão entupidas, e assim vivia confiada na sua segurança,quando subitamente descobriu uma fenda na parede.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Que saudades da professorinha"

"Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?"

Dar aulas toma tempo e emburrece.
Às vezes dá um medinho de que isso dure muito, muito tempo...
Às vezes dá uma vontade de jogar tudo para o alto e mudar de profissão enquanto é tempo, mas aí aquela mesma força que me levou para "dentro" da sala de aula me puxa de volta; então me jogo com toda a força no que estou fazendo.
Lecionar é bom.
Ser a professorinha, ser a tia, ser a prof. é uma coisa que mexe com os brios, que eleva a alma, mas, mesmo assim, às vezes aquela vontade de mandar tudo às favas está lá presente, latente e lancinante.

Distraida Pra Morte

Distraida Pra Morte 
Composição: Otto


Distraida pra morte
Eu estava sim
Distraida pra morte
Eu estava sim

E no enterro
Pra que o trabuco?
Matar defunto
Não é legal

Eu só chorei
Porque era um pobre
Que estava ali

São quatro corpos deitados
Todos eles ensangüentados
Mas o que é que eu posso fazer?
Eles são desempregados








Meio distraída assim... para a vida, para a morte, para a dor...