quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Por ele

Venho abandonando a escrita.
Escrever agora me faz sentir o peso
... das coisas interrompidas...
mesmo com o adeus dado no último instante
com a quase certeza de um final próximo ou imediato
na despedida que nos atingiu de surpresa
das coisas idealizadas com todas as não-realizações
dos sentimentos que persistem, mesmo contra toda a luta para deixá-los ir
das nossas muitas lembranças... na sua mais absoluta visceralidade
dos beijos, abraços e poemas trocados
das noites de prazer compartilhadas
da vida que nunca foi junta, mas também nunca se separou.
Escrever é como olhar sem poder tocá-lo, porém desejando ardentemente isso!
E vê-lo da vitrine é muito pior do que enxergá-lo passando por minha janela.


Karolyne Gilberta

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Leite Derramado

Aqui não me darei ao desfrute de divulgar intimidades de Matilde, mas digo que cada mulher tem uma voz secreta, com melodia característica, só sabida de quem a leva para cama. Foi a voz que ali escutei, ou quis escutar, havia semanas que não me deitava com Matilde. E me deliciei de imaginar que naquele momento ela se acariciava pensando em mim, como eu a namorava em pensamento toda noite em meu quarto.

Trecho de Leite Derramado de Chico Buarque.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Nosso cheiro

O cheiro que exalamos é o melhor cheiro do mundo.
Cheiro de nossa respiração e transpiração misturados um ao do outro,
De saliva espalhada pela pele,
De órgãos sexuais exalando excitação pelos poros,
Cheiro de vertigem durante os orgasmos,
De esperma lançado sobre o corpo,
Dentro do corpo,
Cheiro de bicho quando no cio.
É cheiro misto de doçura e selvageria.
De corpos que ardem... que queimam... corpos em brasa. 



Karolyne Gilberta.

Assim como quem nada quer

Andando displicentes pelas ruas a procura de diversão nos encontramos.
Depois de vários minutos de conversa me convida para finalmente conhecer sua casa.
Não que a casa seja longe, mas os minutos do percurso fazem o caminho parecer tão longo diante das necessidades do corpo.
O tesão nos domina e beijos e mais beijos vão se sucedendo.
Propostas sussurradas ao pé do ouvido vão surgindo.
Braços ávidos buscam meu corpo e encontram nele toda a energia necessária para seguirmos adiante.
Me segura o peito com uma mão, lança a boca sobre o outro.
Joga-me sobre o sofá e se atira sobre mim empurrando uma de minhas pernas para cima prendendo-a entre meu corpo e o dele.
Coloca os dedos sobre meu sexo e põe-se a alisá-lo até deixá-lo úmido.
Continua o trabalho com dentes, lábios e língua.
Segura minhas mãos com força e me olha fixamente nos olhos.
Vira-me de costas e me puxa de encontro ao seu corpo levemente suado.
Olho para o espelho e vejo minha bunda altiva dando-lhe sinal de passagem.
Começa a penetrar-me.
Excitada a ponto de quase explodir prendo-me em seus cabelos no auge do desespero.
Sobrevêm-me os gemidos, os gritos, o choro, a histeria que antecede o gozo.
Deliro. A cada estocada viajo no prazer provocado pelos movimentos hábeis.
O ritmo aumenta.
Nossos corpos respondem: ele ejacula e eu me desmancho.

Karolyne Gilberta.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

De que será que mulher gosta?


Dizem que mulher é ‘bicho’ que não gosta de sexo. Quando ouço isso fico me perguntando então o que sou já que me reconheço fêmea, tenho vagina e gosto muito de usá-la. Sou das que acreditam que sexo é coisa de todo dia se possível, e fico excitada já com o trabalho da imaginação quando esta me diz que é dia de foder, ou seja, sempre. Gosto de tudo: das preliminares ao sexo oral, mas, principalmente, da penetração. Gosto por achar parecido com um parque de diversões quando estou no sobe e desce, estando por cima ou por baixo. Gosto dos cabelos e pêlos arrancados nos movimentos bruscos encontrados displicentes pelo corpo alheio, do suor que exala dos poros de ambos nos balanços mais audazes, da língua que encontra lugares impróprios e improváveis para abrigar a saliva que escorre como fruto do tesão pelo outro, dos olhos que maliciosos e provocativos brincam de se revelar e se esconder, o contorcer dos pés quando a excitação é tão grande que se torna incontrolável, das mãos que tentam no controle do corpo do outro através de apalpadelas ou trancos fortes controlar o corpo do próprio dono, os dedos que brincam passeando pelas partes miúdas encontrando cavidades para explorar, ouvidos que ficam atentos aos mínimos movimentos e barulhos que propiciem prazer... Tem coisa mais deliciosa que esse cenário de deleite? Se tem, me apresentem que eu pelo menos desconheço.

 
Karolyne Gilberta

Olhos nos olhos

Por nossos poros transpiram desejos.
Sua pele preta esconde meu refúgio.
Macia, úmida, perfumada.
Nela sacio minhas vontades de devorar teu corpo.
Teus pequenos cachos escondem meus dedos ávidos,
minhas mãos aflitas.
Te busco!
Vejo seu volume aumentar.
Minha ânsia por ele em minha boca cresce junto.
Abraço com os lábios teu membro rijo.
Comprimo e aqueço teu mastro entre língua e dentes.
Te cheiro, te sinto, te toco... te devoro!
Tu avanças com ele em minha garganta.
Afunda o máximo que consegues!
Estamos nus! Estamos nós!
Olhos nos olhos!
Pele na pele!
Corpos conectados!
Transcendência!
Sinto teu líquido morno e levemente adocicado jorrando garganta adentro.

Karolyne Gilberta

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

H. H.

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa

E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

Hilda Hilst

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A mulher e o padre

Encantou-se por ele na celebração do batizado de seu filho mais novo. O último de três. Aquele sotaque arrastado, o sorriso meio contido, os olhos contritos toda vez que evocava o nome do Senhor, as mãos que gentilmente repartiam o corpo e o sangue de Cristo...
Passou a viver uma sensação de culpa que nem sabia de onde vinha, já que não acreditava na igreja ou seus representantes com seus falatórios sem sentido, e deleite por aquele calor que a preenchia quando se tem vontades e deseja-se matá-las. Às vezes pensava que se não matasse aquela chama, acabaria se matando consumida que era por uma culpa sem sentido e por todos os agravantes da situação.
Ficava dividida entre querer e poder, permitido e proibido, desejado e desejável. Divisão que ela tinha consciência que era fruto da hipocrisia da sociedade e da luta do catolicismo em manter seu patrimônio controlado sempre pelas “mesmas mãos”.
Além do sacerdócio havia o marido que entrava no meio da história para atrapalhá-la sem pedir licença. Não que não gostasse dele, pelo contrário, gostava tanto que era capaz de desejar o outro e aninhar ambos nesse grande círculo de sentimentos que a tornavam quem era: universo de sensações e sentimentos.
Nos momentos de devaneio ficava se perguntando se o sacerdote seria capaz de desejar as mesmas coisas que ela. Ter os mesmos pensamentos acalorados que tumultuavam sua mente. A resposta finalmente veio quando sentiu o tremor e suor excessivo das mãos dele ao tocar as suas na distribuição da hóstia e os olhos desviados ao encontro dos dela com a rapidez de uma tempestade no meio do verão na última missa. Acreditou doravante que aquela ideia não parecia tão descabida assim.
Na semana seguinte colocou o vestido que melhor valorizava-lhe as curvas e caminhou acompanhada dos filhos para a igreja. Florido, levemente volteado, ajustado na cintura e com um decote discreto, porém não muito. O marido, como na maioria das vezes, permaneceu em casa tomando a cerveja domingueira.
Chegou o mais cedo que pôde e procurou um banco na frente para não perder nenhum movimento importante. Foi assim que notou os olhares que vinham furtivos do altar toda vez que uma chance aparecia. Cruzava e descruzava as pernas em movimentos sempre lentos e meticulosos, passava a mão entre os cabelos na altura dos ombros para deixá-los displicentes, seguia o rito de ajoelhar e levantar-se para se fazer notada.
Foi perdendo o pudor e deixou de dar ouvidos aos disparates da consciência cristã alheia. Esperou a chance de encontrar-se sozinha com ele. Dirigiu-se ao confessionário com passos firmes e decididos, disse o motivo pelo qual tinha buscado sua presença longe dos demais e, sem esperar resposta, atirou-se em seus braços. Ele correspondeu dando-lhe beijos ávidos.  Ela se precipitou arrancando-lhe a batina, espreitando-lhe o corpo e deixando-se saborear. Ao final a frustração tomou conta de seu interior. Não era nada daquilo que imaginara ou desejara que fosse o momento. Experimentou, não gostou do pouco que provou.
Simplesmente pegou os filhos que a aguardavam no meio do salão e refez o caminho de volta para casa como se aquilo não tivesse passado de um devaneio não muito feliz. Sabia que Deus não poderia puni-la por algo que nem prazer tinha lhe despertado.


Karolyne Gilberta.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Santinha, a casta


Possuía cabelos longos que nunca tinham visto um pingo de tinta que fosse, tampouco um corte mais abusado. Olhos castanhos escuros levemente opacos que abrigavam um olhar inocente de quem veio a passeio ao mundo. Um jeito meigo de boneca de louça que parecia que ia se quebrar ao mais leve toque. Uma pele tão clara que era quase translúcida. Por sua aparência idealizavam-na.  Cercavam-lhe de mimos e cuidados. Sufocavam-na sem perceber. Quase ninguém sabia, mas havia um lugar onde ela transfigurava-se ficando absolutamente irreconhecível. Lugar esse que seu olhar abandonava a placidez rotineira passando a assumir ares cruéis como águas de um mar revolto que sai derrubando o que lhe cerca ou impede a passagem. Os cabelos assumiam postura agressiva e exigiam dominação. Perdia a candura habitual vista pelos olhos alheios. Viajava sem sair do lugar. Parecia que passava a habitar um mundo paralelo, a ser esse mundo. Entrava em êxtase numa realidade absolutamente diferente daquela que vivia a maior parte do tempo. Perdia a compostura. Transformava aquilo que a suprimia em libertação.

Karolyne Gilberta

Coisas que todos gostam ou deveriam experimentar



Um beijo no pé do ventre
Um sussurro ao pé do ouvido
Um cheiro no cangote
Uma lambida no umbigo

A mão entrelaçando-se com outra
Deixar brincando de ser par os dedos
Olhos mergulhados dentro dos olhos
Um cafuné bem caprichado nos cabelos

Uma encostada com jeito contra a parede
A língua correndo pelas costas nuas
Uma mordida de leve na bunda
Os mamilos atiçados pela ação da boca crua

Desfrutar da beleza das delícias da carne
Uma roçada de unhas na pele sedenta
Cravada de dentes no meio das pernas
Corpo contra corpo numa manhã fria e cinzenta


Karolyne Gilberta