segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Santinha, a casta


Possuía cabelos longos que nunca tinham visto um pingo de tinta que fosse, tampouco um corte mais abusado. Olhos castanhos escuros levemente opacos que abrigavam um olhar inocente de quem veio a passeio ao mundo. Um jeito meigo de boneca de louça que parecia que ia se quebrar ao mais leve toque. Uma pele tão clara que era quase translúcida. Por sua aparência idealizavam-na.  Cercavam-lhe de mimos e cuidados. Sufocavam-na sem perceber. Quase ninguém sabia, mas havia um lugar onde ela transfigurava-se ficando absolutamente irreconhecível. Lugar esse que seu olhar abandonava a placidez rotineira passando a assumir ares cruéis como águas de um mar revolto que sai derrubando o que lhe cerca ou impede a passagem. Os cabelos assumiam postura agressiva e exigiam dominação. Perdia a candura habitual vista pelos olhos alheios. Viajava sem sair do lugar. Parecia que passava a habitar um mundo paralelo, a ser esse mundo. Entrava em êxtase numa realidade absolutamente diferente daquela que vivia a maior parte do tempo. Perdia a compostura. Transformava aquilo que a suprimia em libertação.

Karolyne Gilberta

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