Encantou-se por ele na
celebração do batizado de seu filho mais novo. O último de três. Aquele sotaque
arrastado, o sorriso meio contido, os olhos contritos toda vez que evocava o
nome do Senhor, as mãos que gentilmente repartiam o corpo e o sangue de
Cristo...
Passou a viver uma
sensação de culpa que nem sabia de onde vinha, já que não acreditava na igreja
ou seus representantes com seus falatórios sem sentido, e deleite por aquele
calor que a preenchia quando se tem vontades e deseja-se matá-las. Às vezes
pensava que se não matasse aquela chama, acabaria se matando consumida que era
por uma culpa sem sentido e por todos os agravantes da situação.
Ficava dividida entre
querer e poder, permitido e proibido, desejado e desejável. Divisão que ela
tinha consciência que era fruto da hipocrisia da sociedade e da luta do
catolicismo em manter seu patrimônio controlado sempre pelas “mesmas mãos”.
Além do sacerdócio havia
o marido que entrava no meio da história para atrapalhá-la sem pedir licença. Não
que não gostasse dele, pelo contrário, gostava tanto que era capaz de desejar o
outro e aninhar ambos nesse grande círculo de sentimentos que a tornavam quem
era: universo de sensações e sentimentos.
Nos momentos de
devaneio ficava se perguntando se o sacerdote seria capaz de desejar as mesmas
coisas que ela. Ter os mesmos pensamentos acalorados que tumultuavam sua mente.
A resposta finalmente veio quando sentiu o tremor e suor excessivo das mãos
dele ao tocar as suas na distribuição da hóstia e os olhos desviados ao
encontro dos dela com a rapidez de uma tempestade no meio do verão na última missa.
Acreditou doravante que aquela ideia não parecia tão descabida assim.
Na semana seguinte
colocou o vestido que melhor valorizava-lhe as curvas e caminhou acompanhada
dos filhos para a igreja. Florido, levemente volteado, ajustado na cintura e
com um decote discreto, porém não muito. O marido, como na maioria das vezes,
permaneceu em casa tomando a cerveja domingueira.
Chegou o mais cedo que
pôde e procurou um banco na frente para não perder nenhum movimento importante.
Foi assim que notou os olhares que vinham furtivos do altar toda vez que uma
chance aparecia. Cruzava e descruzava as pernas em movimentos sempre lentos e
meticulosos, passava a mão entre os cabelos na altura dos ombros para deixá-los
displicentes, seguia o rito de ajoelhar e levantar-se para se fazer notada.
Foi perdendo o pudor e
deixou de dar ouvidos aos disparates da consciência cristã alheia. Esperou a
chance de encontrar-se sozinha com ele. Dirigiu-se ao confessionário com passos
firmes e decididos, disse o motivo pelo qual tinha buscado sua presença longe
dos demais e, sem esperar resposta, atirou-se em seus braços. Ele correspondeu dando-lhe
beijos ávidos. Ela se precipitou
arrancando-lhe a batina, espreitando-lhe o corpo e deixando-se saborear. Ao final
a frustração tomou conta de seu interior. Não era nada daquilo que imaginara ou
desejara que fosse o momento. Experimentou, não gostou do pouco que provou.
Simplesmente pegou os
filhos que a aguardavam no meio do salão e refez o caminho de volta para casa
como se aquilo não tivesse passado de um devaneio não muito feliz. Sabia que
Deus não poderia puni-la por algo que nem prazer tinha lhe despertado.
Karolyne Gilberta.
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