terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A mulher e o padre

Encantou-se por ele na celebração do batizado de seu filho mais novo. O último de três. Aquele sotaque arrastado, o sorriso meio contido, os olhos contritos toda vez que evocava o nome do Senhor, as mãos que gentilmente repartiam o corpo e o sangue de Cristo...
Passou a viver uma sensação de culpa que nem sabia de onde vinha, já que não acreditava na igreja ou seus representantes com seus falatórios sem sentido, e deleite por aquele calor que a preenchia quando se tem vontades e deseja-se matá-las. Às vezes pensava que se não matasse aquela chama, acabaria se matando consumida que era por uma culpa sem sentido e por todos os agravantes da situação.
Ficava dividida entre querer e poder, permitido e proibido, desejado e desejável. Divisão que ela tinha consciência que era fruto da hipocrisia da sociedade e da luta do catolicismo em manter seu patrimônio controlado sempre pelas “mesmas mãos”.
Além do sacerdócio havia o marido que entrava no meio da história para atrapalhá-la sem pedir licença. Não que não gostasse dele, pelo contrário, gostava tanto que era capaz de desejar o outro e aninhar ambos nesse grande círculo de sentimentos que a tornavam quem era: universo de sensações e sentimentos.
Nos momentos de devaneio ficava se perguntando se o sacerdote seria capaz de desejar as mesmas coisas que ela. Ter os mesmos pensamentos acalorados que tumultuavam sua mente. A resposta finalmente veio quando sentiu o tremor e suor excessivo das mãos dele ao tocar as suas na distribuição da hóstia e os olhos desviados ao encontro dos dela com a rapidez de uma tempestade no meio do verão na última missa. Acreditou doravante que aquela ideia não parecia tão descabida assim.
Na semana seguinte colocou o vestido que melhor valorizava-lhe as curvas e caminhou acompanhada dos filhos para a igreja. Florido, levemente volteado, ajustado na cintura e com um decote discreto, porém não muito. O marido, como na maioria das vezes, permaneceu em casa tomando a cerveja domingueira.
Chegou o mais cedo que pôde e procurou um banco na frente para não perder nenhum movimento importante. Foi assim que notou os olhares que vinham furtivos do altar toda vez que uma chance aparecia. Cruzava e descruzava as pernas em movimentos sempre lentos e meticulosos, passava a mão entre os cabelos na altura dos ombros para deixá-los displicentes, seguia o rito de ajoelhar e levantar-se para se fazer notada.
Foi perdendo o pudor e deixou de dar ouvidos aos disparates da consciência cristã alheia. Esperou a chance de encontrar-se sozinha com ele. Dirigiu-se ao confessionário com passos firmes e decididos, disse o motivo pelo qual tinha buscado sua presença longe dos demais e, sem esperar resposta, atirou-se em seus braços. Ele correspondeu dando-lhe beijos ávidos.  Ela se precipitou arrancando-lhe a batina, espreitando-lhe o corpo e deixando-se saborear. Ao final a frustração tomou conta de seu interior. Não era nada daquilo que imaginara ou desejara que fosse o momento. Experimentou, não gostou do pouco que provou.
Simplesmente pegou os filhos que a aguardavam no meio do salão e refez o caminho de volta para casa como se aquilo não tivesse passado de um devaneio não muito feliz. Sabia que Deus não poderia puni-la por algo que nem prazer tinha lhe despertado.


Karolyne Gilberta.

Nenhum comentário: