sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Estou de férias...estou na vida, no sentido figurado, é claro.
;D

Desejo o mesmo à vocês!
Tantas coisas boas quanto possível.
Beijos, cheiros, muito carinho e boas festas!!!



Divirtamo-nos!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

I'll Never Love This Way Again

You looked inside my fantasies and made each one come true,
something no one else had ever found a way to do.
I've kept the mem'ries one by one, since you took me in;
and I know I'll never love this way again.

I know I'll never love this way again,
so I keep holdin' on before the good is gone.
I know I'll never love this way again,
hold on, hold on, hold on.

A fool will lose tomorrow reaching back for yesterday;
I won't turn my head in sorrow if you should go away.
I'll stand here and remember just how good it's been,
and I know I'll never love this way again.

I know I'll never love this way again,
so I keep holdin' on before the good is gone.
I know I'll never love this way again,
hold on, hold on, hold on.

I know I'll never love this way again,
so I keep holdin' on before the good is gone.
I know I'll never love this way again,
hold on, hold on.



E será sempre assim....

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Episódios da vida profissional - vida de professor!

Não sou o tipo de blogueira que dialoga com seus leitores em suas postagens, suponho eu. Até porque não acredito que tenha muitos ou que eles existam de fato.
rs

Mas nesses últimos dias tenho me sentido com mais vontade de falar de "meus feitos" que de minhas preferências literárias e musicais.
Hoje foi um dia interessante. Acompanhei, junto com mais dois professores, os alunos do 8° e 9° ano para uma visita ao espaço das Indústrias Nucleares do Brasil e ao museu da Casa Anísio Teixeira na cidade de Caetité..
Foi a primeira vez que fui como professora responsável. A experiência foi boa, apesar de notar que muitos deles não mostram interesse pela maioria das nossas propostas, mesmo quando pensamos em algo divertido para que eles façam.
O importante foi a interação que o evento em questão nos proporcionou. Deu para quebrar a seriedade da relação aluno/professor que o ambiente que trabalho impõe.
É isso: ser professor não é a coisa mais fácil do mundo, mas tem proporcionado momentos valorozíssimos para mim enquanto ser humano.
Tenho tentado transformar a coisa da melhor forma possível para que não se torne umm fardo para mm.
Até agora vem dando certo.
Tão certo que tenho duas centenas de provas para corrigir esse fim de semana!
 ¬______¬


Me desejem sorte, pessoal.
=D

sábado, 27 de novembro de 2010

Irresistivelmente...

Bem que me avisaram
ficarás sozinha e mal falada
dolorida e abandonada
à mercê dos tubarões
mas não pude resistir.




Marta Medeiros
Poesia reunida

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Alívio

Apresentei meu projeto de pesquisa.
Se ficou bom ou não, só Deus sabe, mas o peso das costas sumiu de uma forma surpreendente.
Foi tão simples e indolor.
Agora outros trabalhos acadêmicos em desenvolvimento... milhões de outras coisas para fazer.
Um certo receio porque é perceptível a expectativa das pessoas. Mas quem está na chuva é para se molhar, então lá vamos nós...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Madamme Bovary (VIII)

Emma, porém, vivia cheia de desejos, de raiva, de ódio. Aquele vestido de pregas escondia um coração revoltado e aqueles lábios tão pudicos não confessavam o seu tormento. Ela estava apaixonada por Léon e procurava a solidão para poder mais à vontade deleitar-se com a sua imagem. a visão da sua pessoa perturbava a volúpia daquela meditação. Emma palpitava ao ruído dos seus passos, depois, em presença dele, desfazia-se-lhe a emoção e, a seguir, só lhe ficava um imenso espanto, que terminava em tristeza.

[...]Então, os apetites da carne, as cobiças do dinheiro e as melancolias da paixão, tudo se confundia num mesmo sofrimento, e, em vez de procurar afastar daí o pensamento, ainda mais se prendia ao mesmo, excitando-se à dor e procurando para isso todas as ocasiões. Irritava-se com um prato mal servido ou com uma porta entreaberta, lastimava-se pelo veludo que lhe faltava, pela felicidade que não tinha, por as suas aspirações serem demasiado elevadas e por a casa ser acanhada de mais.
O que a exasperava é que Charles não dava a impressão de suspeitar do seu suplício. a convicção que ele tinha de a fazer feliz parecia-lhe um insulto imbecil e a segurança que revelava a esse respeito ingratidão. Por causa de quem se comportava ela tão escrupulosamente?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Só para o seu coração

[..]Só para o seu coração
Mais do que este palco iluminado
Eu quero esse delicado
Contato da sua mão

É você que me fica fazendo
Os mais doces carinhos
Roçando esses dedos macios
Assim nos meus lábios
Fazendo com que eu fique quente
Depois de tão frio


Ah, como eu desejo esses seus
Movimentos tão sábios
Emoção é o lado mais doce de nossa energia
E em mim é você que alimenta esta forma de luz
Você é a mulher que me faz infinito na vida
Estrela que me orienta, ilumina e seduz

Mais do que cantar pra o mundo inteiro
Eu quero cantar primeiro
Só para o seu coração[...]

Sérgio Sampaio




Nesse friozinho que me deixa com uma melancolia gostosa, estou aqui ouvindo Sérgio Sampaio e me sentindo nem sei como definir...
Abençoada seja essa chuva que molha o chão da cidade nessa noite maravilhosa e traz essa energia tão boa, tão divinal!

sábado, 13 de novembro de 2010

Naquela mesa

Depois de ler este texto ,no blog do amigo manolo Icaro, não consegui tirar essa música da cabeça.
Também eu gosto tanto dela, e Nelson com sua voz forte, expressiva, me faz gostar ainda mais.


Naquela Mesa
Nelson Gonçalves
Composição: Sérgio Bittencourt 

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim

Assim comia Zaratustra

Os poderosos sempre almoçam comidas gordurosas, bem condimentadas, com molhos pesados, enquanto os fracos ficam beliscando germe de trigo e tofu, convictos de que seu sofrimento lhes renderá uma recompensa na vida após a morte, onde costeletas de cordeiro na grelha fazem o maior sucesso. Mas se a vida após a morte é, como eu sustento*, uma eterna recorrência desta vida, então os mansos terão de jantar eternamente pratos de baixas calorias e frango grelhado sem pele.

Woody Allen
Trecho do conto "Assim comia Zaratustra" do livro Fora de Órbita.


*Eu também.
Amém, Senhor!

Glória, Aleluia! Vendido!

- Ei chefe - latiu o autor desconcertado -, um cara em Akron quer uma prece para que a mulher dele lhe dê um filho. Eu estou empacado, sem conseguir achar um caminho.
- Ah, esqueci de lhe dizer - explicou-me Moribundam. - Pouco tempo atrás eu acrescentei um novo serviço em que personalizamos as preces. Adequamos os textos às necessidades individuais do coitado e lhe enviamos alguma súplkica feita sob medida. - Em seguida, voltando-se para o acólito, urrou: - Tente isto: "Que a semente se deposite em pastagens verdejantes e os rebentos brotem em abundância."
- Excelente, M. M. - disse o escritor. - Eu sabia que se estava empacado numa expressão sagrada...
- Não, espere aí - interpus-me, de súbito. - Ponha assim: "Que ela multiplique frutíferamente."
- Ei - disse Moribundam - Você conhece o caminho das pedras. Esse garoto é fera. - Eu estava me aquecendo ao sol do elogio, quando o telefone tocou. Moribundam pulou sobre ele.
- Santo Moe, Moribundam, o Agente de Preces falando. O quê? Lamento, senhora. Tem que falar com o nosso setor de reclamações. Não damos garantia de que o Senhor irá proporcionar tudo o que a senhora quer. Ele só pode jogar com as cartas que tem na mão. Mas não desanime, meu anjo. Você ainda pode achar seu gato. Não, nãoi devolvemos dinheiro. Leia as letras miúdas do seu contrato de confirmação de prece. Soletre com calma as nossas responsabilidades e as Dele. Porém o que faremos é enviar-lhe bençãos de cortesia, e, se a senhora for à Lobster Grotto no Queens Boulevard e lhes disser que Deus mandou a senhora lá, ganhará um coquetel grátis. - Moribundam desligou. - Todo mundo está no meu pé[...]

Woody Allen
Trecho do conto 'Glória, Aleluia! Vendido! do livro Fora de Órbita.


Nos tempos em que pessoas compram, vendem e jogam com a fé, nada mais atual que a história brilhantemente criada por Woody Allen neste texto.
Se há quem venda, é por que há quem compre.
Numa sociedade de consumo não me espanta que até a fé seja cada dia mais barganhada e vendável/vendida.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Madamme Bovary (VII)

Léon torturava-se para descobrir a maneira de lhe fazer a declaração, e, hesitando sempre entre o medo de lhe desagradar e a vergonha de ser tão pusilânime, chorava de desânimo e de desejo ao mesmo tempo. Depois tomava decisões enérgicas, escrevia cartas que rasgava em seguida, marcava datas que depois protelava. muitas vezes, metia-se a caminho com o projecto de se atrever a tudo, mas depressa abandonava a resolução na presença de Emma e, quando Charles, ao chegar, o convidava a subir para a carruagem e ir com ele ver algum doente nos arredores, aceitava imediatamente, despedia-se de Emma e partia. O marido não era, afinal, qualquer coisa que fazia parte dela?
Quanto a Emma, não se interrogava a si mesma para saber se o amava. O amor, segundo acreditava, devia surgir de repente, com grande tumulto e fulgurações - tempestade dos céus que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como folhas e arrebata para o abismo o coração inteiro. Não sabia que, nos terraços das casas, a chuva forma lagos quando as goteiras estão entupidas, e assim vivia confiada na sua segurança,quando subitamente descobriu uma fenda na parede.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Que saudades da professorinha"

"Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?"

Dar aulas toma tempo e emburrece.
Às vezes dá um medinho de que isso dure muito, muito tempo...
Às vezes dá uma vontade de jogar tudo para o alto e mudar de profissão enquanto é tempo, mas aí aquela mesma força que me levou para "dentro" da sala de aula me puxa de volta; então me jogo com toda a força no que estou fazendo.
Lecionar é bom.
Ser a professorinha, ser a tia, ser a prof. é uma coisa que mexe com os brios, que eleva a alma, mas, mesmo assim, às vezes aquela vontade de mandar tudo às favas está lá presente, latente e lancinante.

Distraida Pra Morte

Distraida Pra Morte 
Composição: Otto


Distraida pra morte
Eu estava sim
Distraida pra morte
Eu estava sim

E no enterro
Pra que o trabuco?
Matar defunto
Não é legal

Eu só chorei
Porque era um pobre
Que estava ali

São quatro corpos deitados
Todos eles ensangüentados
Mas o que é que eu posso fazer?
Eles são desempregados








Meio distraída assim... para a vida, para a morte, para a dor...

domingo, 31 de outubro de 2010

Às vezes o amor que se dá pesa...


Farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo, por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz...
Também é bom porque em geral se pode ajudar muito mais as pessoas quando não se está cega de amor.

Clarice Lispector

Borboletas e Risos

 


Borboletas e Risos
Isabella Taviani

Não vá sair sem se despedir
Deixe ao menos um cheiro
Num canto qualquer

Não vá sumir
Logo agora que descobri seus encantos
Seu plano qual é?

Me enfeitiçar
Derrubar as fronteiras em mim
Me desnortear
Escrever outra página

Lírios brancos combinam com meu bem
Borboletas e risos
Lua cheia também
Você, demais, sempre me faltou
Não desvie os seus olhos

Do nosso amor Me enfeitiçar
Derrubar as fronteiras em mim
Me hipinotizar
Escrever outra página
Redecorar minha casa

sábado, 30 de outubro de 2010

O fardo dos dias... [2]

Cansada, sofrida, dorida, extenuada....
Haja mal gosto e dedo podre.
Cansada de experimentar, de tentar ser feliz, de tentar encontrar alguém...
Quando depois de tentativas infrutíferas percebe-se que não tem solução, melhor deixar de lado e cuidar da vida.
Ou é isto ou enlouquecer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia Branco

Dia Branco
Geraldo Azevedo
Composição: Geraldo Azevedo/ Renato Rocha

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...

Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Oh! oh! oh...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...
Se a chuva cair

Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...

E nesse dia branco
Se branco ele for
Esse canto
Esse tão grande amor
Grande amor...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo Comigo, comigo.


Tão linda essa música... tão linda!E a maestria de sempre de Geraldo Azevedo.



Três anos. Aos três anos, o sujeito começa a inventar o mundo. Minha família morava na praia. E eu começava a inventar o mundo. Primeiro, foi o mar. Não, não. Primeiro, inventei o caju selvagem e a pitanga brava.
Para os meus três anos, o mar, antes de ser paisagem, foi cheiro. Não era concha, nem espuma. Cheiro. Meu pai, antes de ser figura, gesto, bengala ou pura palavra, também foi cheiro. Ninguém tinha nome na minha primeira infância. A estrela-do-mar não se chamava estrela, nem o mar era mar.


Nelson Rodrigues.
Trecho do conto Era bonito ser histérica da obra O Óbvio Ululante.


Saudades do tempo em que as coisas não tinham nome.
Que eram cheiros, sons, gosto ou só existiam em minha imaginação.
Estou precisando de férias de coisas e pessoas! Nada contra ninguém!
Precisando de muita fé em Deus! De menos ou nenhum rótulo... tanta coisa que a gente precisa e não se decide por ter, por ser....

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A nuvem de calças

Maria, anda cá!

Nua e sem pudor,
ou com um tímido tremor,
mas dá-me o encanto dos teus lábios que nunca murcharão:
o meu coração nunca chegou a Maio,
na vida vivida
nunca passou de Abril.

Maria!
O poeta canta sonetos a Tiana,
e eu –
todo de carne,
todo humano –
só peço o teu corpo
como os cristãos pedem
“o pão nosso de cada dia
nos dai hoje”.

Maria – dá!

Maria !
Tenho medo de o teu nome esquecer,
como teme olvidar o poeta
a palavra
nascida no martírio nocturno
grande só como Deus.

Teu corpo
cuidarei e amarei,
como o soldado
mutilado na guerra,
inútil
e sem dono,
cuida da única perna.

Maria –
não queres?
Não queres?

Ah !

Quer dizer que de novo sombria e tristemente
pegarei no coração,
salpicado de lágrimas,
e o levarei
como um cão
que para a casota
arrasta
a pata atropelada.

Com sangue do meu coração ficará manchado o caminho
como com flores de fogo lançadas à poeira.
Mil vezes bailará o Sol à volta da Terra
como a filha de Herodes
à volta da cabeça do Baptista.

E quando os meus anos
bailem até ao fim –
cobrir-se-á com milhões de gotas de sangue
o caminho até à morada de meu pai.

Sairei então
sujo (de dormir nas sargetas),
e ponho-me a seu lado,
inclino-me
e digo-lhe ao ouvido:

- Escuta, senhor Deus !
Como é que não te aborreces
nessa gelatina de nuvens
deitando água todos os dias dos teus olhos bondosos ?
Sabes uma coisa ?
Vamos construir um carrocel
na árvore da sabedoria do Bem e do Mal.

Omnipresente, estarás em todos os armários,
e pomos à mesa uns vinhos e tais
que incitem a bailar
o taciturno apóstolo S. Pedro.
E de Ervas encheremos de novo o paraíso:
uma palavra tua, -
e esta mesma noite
pelas ruas juntarei
as mais belas raparigas.

Trecho do poema A nuvem de calças de Vladimir Maiakóvski.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Madame Bovary (VI)

- Acho que não há nada tão admirável como um pôr do sol - continuou ela -, mas sobretudo à beira-mar.
- Oh!, eu adoro o mar - disse Léon.
- E não lhe parece também - replicou a senhora Bovary - que o espírito voga mais livremente sobre essa extensão sem limites, cuja contemplação nos eleva a alma e comunica ideias de infinito, de ideal?

domingo, 24 de outubro de 2010

Viagem à sombra

Tua casa sozinha – lassidão dos devaneios, dos segredos. Frocos verdes de perfume sobre a malva penumbra (e a tua carne em pianíssimo, grande gata branca de fala moribunda) e o fumo branco da cidade inatingível, e o fumo branco, e a tua boca áspera, onde há dentes de inocência ainda.

És, de qualquer modo, a Mulher. Há teu ventre que se cobre, invisível, de odor marítimo dos brigues selvagens que eu não tive; há teus olhos mansos de louca, ó louca! e há tua face obscura, dolorosa, talhada na pedra que quis falar. Nos teus seios de juventude, o ruído misterioso dos duendes ordenhando o leite pálido da tristeza do desejo.

E na espera da música, o vaivém infantil dos gestos de magia. Sim, é dança! – o colo que aflora oferecido é a melodiosa recusa das mãos, a anca que irrompe à carícia é o ungido pudor dos olhos, há um sorriso de infinita graça, também, frio sobre os lábios que se consomem. Ah! onde o mar e as trágicas aves da tempestade, para ser transportado, a face pousada sobre o abismo?

Que se abram as portas, que se abram as janelas e se afastem as coisas aos ventos. Se alguém me pôs nas mãos este chicote de aço, eu te castigarei, fêmea! – Vem, pousa-te aqui! Adormece tuas íris de ágata, dança! – teu corpo barroco em bolero e rumba. – Mais! – dança! dança! – canta, rouxinol! (Oh, tuas coxas são pântanos de cal viva, misteriosa como a carne dos batráquios...)

Tu que só és o balbucio, o voto, a súplica - oh mulher, anjo, cadáver da minha angústia! – sê minha! minha! minha! no ermo deste momento, no momento desta sombra, na sombra desta agonia – minha – minha – minha – oh mulher, garça mansa, resto orvalhado de nuvem...
Pudesse passar o tempo e tu restares horizontalmente, fraco animal, as pernas atiradas à dor da monstruosa gestação! Eu te fecundaria com um simples pensamento de amor, ai de mim!
Mas ficarás com o teu destino.
 

Vinícius de Moraes
Rio de Janeiro, 1938.

sábado, 23 de outubro de 2010

Madamme Bovary (V)

Sobreveio-lhe então uma forte comoção; sentiu-se débil e abandonada, como penugem de um pássaro que volteia na tempestade; e foi inconscientemente que se dirigiu à igreja, disposta a qualquer devoção, contanto que lhe absorvesse a alma e lhe fizesse esquecer completamente a existência.

Carol

I've got to learn to dance
 
If it takes me all night and day.
Well I've got to learn to dance
If it takes you all night and day.

The Beatles 


Viva todo mundo que faz e fez música com meu nome! lol

Mais uma vez, e outra vez, ainda...


Filme repetido que se é obrigado a assistir é tão cansativo....
Repetir as experiências então, mais cansativo ainda!
Pessoas cansam, ainda mais no momento da fraqueza, da tristeza, da frustração.

Queria não ter vivido tanto assim...
Não ter experienciado tanto assim...
Queria na verdade não ter que viver para ver o final desse filme outra vez.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Encher e transbordar

Queria conseguir chorar toda a noite de hoje.
Talvez o dia de amanhã também.
Mas tenho certeza que não.
Não vou conseguir.
É mais forte que eu.
Acontecimentos tristes  se sucedem todos os dias,
mas nada pior que a expectativa nos rodeando e se desfazendo.
É como se um gosto de desgosto me ocupasse a boca toda;
Como se a impotência com seu cheiro característico zombasse e tripudiasse de mim,
de meus anseios, expectativas e esforços;
Como se o impalatável sabor da derrota cerceasse o direito de sentir e estar feliz.
E os incomodados que se retirem,
pois a vida segue imperturbável.
A corrente não se rompe, a rotina não se altera...
Deixar que a tristeza me esgote, transborde, transcenda
é a única forma de voltar a enxergar "a luz no fim do túnel".

Karolyne Gilberta.



Trilha Sonora do e para o texto:
Pavio do Destino - Sérgio Sampaio





Texto escrito 22.10.2010 depois de um abalo e tristeza profunda, mas há de passar.
Sempre passa....

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Escrúpulo

Escrúpulo
Lenine

É muito além
É mais do que devia
Excesso que dá
De toda delicadeza...
Portanto, contudo, todavia
Toda vez você desvia
O rumo do assunto
E nunca que chega junto
E nunca que chega
Ao centro da questão

Escrúpulo!...

Você não fala pelas costas
Você não fala pelos cotovelos
Passa noites em claro
Mordendo a fronha
E escolhendo frases
De efeito moral
E nunca que você dá jeito
E nunca que ninguém
Dá jeito na situação

Escrúpulo!...

O tímido medo do ridículo
É sempre no limite
Que você decide
Decide se vai, ou se fica
Ou se foge
Decide, revide ou decide

Perdão!...

Você não sabe
Muito bem ao certo
Com que medida
Pode ser medido
O que é que move lá no fundo
Da verdade oculta
O que é que assusta
O seu coração

Você persegue a causa
E nunca que percebe
A causa da destruição

Escrúpulo!...

Odeio ficar fazendo rodeio
E pelo tolo receio
De ouvir um não
E dando passos em falso
Andando em círculo
O pé atrás, o impasse
O nó na garganta
Então já não adianta
Agora já não adianta
Mudar a decisão

Escrúpulo!... O tímido medo do ridículo

É sempre no limite
Que você decide
Decide se vai, ou se fica
Ou se foge
Decide, revide ou decide

Perdão!...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mulheres

Penso que encontrei Lydia Vance na minha primeira leitura de poesia. Foi numa livraria da Kenmore Avenue, The Drawbridge. Estava, mais uma vez, aterrorizado. Vaidoso, mas aterrorizado. Quando entrei só havia lugares em pé. Peter, que se ocupava da livraria e vivia com uma preta, tinha uma pilha de notas à sua frente. «Merda», pensei, «se eu conseguisse juntar sempre assim tantas, teria dinheiro suficiente para fazer outra viagem à índia!» Entrei e eles começaram a aplaudir. No que diz respeito à leitura de poesia, ia de facto ser de arromba. Eu li durante meia hora e fiz um intervalo. Ainda estava sóbrio e podia sentir no escuro os olhos presos em mim. Vieram algumas pessoas falar comigo. Depois, no momento em que eu estava mais livre, Lydia Vance aproximou-se. Eu bebia cerveja sentado a uma mesa. Ela pousou as duas mãos no rebordo da mesa, inclinou-se e olhou para mim. Tinha longos cabelos castanhos, na verdade muito compridos, um nariz proeminente e era estrábica. Mas desprendia vitalidade - sabia-se que ela estava ali. Eu sentia passarem vibrações entre nós. Algumas eram confusas e não muito boas, mas estavam ali. Ela olhou-me e eu devolvi-lhe o olhar. Lydia Vance usava um casaco de cowgirl em camurça, com uma franja à volta do pescoço. O seu peito era mesmo bom. Eu disselhe: «Gostaria de arrancar essa franja do seu casaco  podíamos começar por aí!». Lydia afastou-se. Não tinha pegado. Eu nunca sabia o que dizer às mulheres. Mas ela tinha cá um traseiro. O fundo das suas calças de ganga moldavam-no na perfeição, e eu continuava a fixá-lo enquanto ela se afastava.
Acabei a segunda parte da leitura e esqueci Lydia exactamente como me esquecia das mulheres com que me cruzava na rua. Recolhi o meu dinheiro, escrevi em alguns guardanapos, alguns bocados de papel e depois fui de carro para casa.
Nessa altura ainda passava noites a trabalhar no meu romance. Nunca começava a  trabalhar antes das 6 e 18 da tarde. Dantes, a essa hora, estava eu a carimbar e a selar no terminal dos Correios. Eram 6 horas da tarde quando Peter e Lydia Vance chegaram. Abri a porta. Peter disse: «Olha, Henry, olha o que eu te trouxe».
Lydia saltou para a mesa de café! As suas calças de ganga moldavam-na mais do que nunca. Ela sacudia para a esquerda e para a direita os seus longos cabelos castanhos. Era louca; era milagrosa. Pela primeira vez pus seriamente a hipótese de fazer amor com ela. Pôs-se a recitar poemas. Era muito mau. Peter tentou  para-la: «Não! Não! Nada de poesia rimada na casa de Henry Chinaski!».

«Deixa-a continuar, Peter!»


Eu queria olhar para as suas nádegas. Ela fazia trepidar a velha mesa de café. Depois dançou. Agitava os braços. A poesia era péssima, mas não o corpo nem a sua loucura.


Lydia saltou para o chão.


«Gostaste, Henry?»


«De quê?»


«Da poesia.»


«Não muito.»


Lydia ficou imóvel com os poemas na mão. Peter agarrou-a. «Vamos foder!», disse-lhe. «Anda, vamos foder!»


Ela repeliu-o.


«Está bem», disse Peter. «Se assim é, vou-me embora!» «Então vai. Eu tenho o meu carro», disse Lydia. «Posso ir para casa sozinha.»


Peter correu para a porta. Parou e voltou-se. «Está bem, Chinaski! Mas não te esqueças do que eu te trouxe!» Bateu com a porta e lá se foi. Lydia sentou-se no sofá, ao pé da porta. Eu estava sentado a cerca de trinta centímetros dela. Olhei-a. Ela estava maravilhosa. Eu tinha medo. Estendi o braço para tocar os seus longos cabelos. O seu cabelo era mágico. Retirei a mão. «Todos esses cabelos são mesmo teus?»,  perguntei-lhe. Eu sabia que eram. «Sim», disse ela, «são meus.» Pus a mão sob o seu queixo, e muito desajeitadamente tentei virar a sua cara para a minha. Nestas situações nunca me sentia seguro. Beijei-a ao de leve.

Lydia saltou. «Tenho de me ir embora. Estou a pagar a uma baby sitter.»


«Ouve», disse eu, «fica. Pagarei eu. Fica mais um pouco.» «Não, não posso. Tenho que me ir embora.» Dirigiu-se para a porta. Eu segui-a. Abriu a porta. Depois voltou-se. Pela última vez estendi-lhe o braço. Ela ergueu o seu rosto e deu-me um beijo fugaz. Em seguida afastou-se e depôs-me na mão algumas folhas dactilografadas. A porta fechou-se. Sentei-me no sofá com as folhas na mão e ouvi o seu carro arrancar.


Charles Bukowiski.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vambora

Vambora
Adriana Calcanhotto


Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Prá mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva...

Ainda tem o seu perfume
Pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara?
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Dentro da noite veloz...

Ainda tem o seu perfume
Pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara?
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Na cinza das horas...




Tô tão assim hoje.
Depressão total.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sarcastic Existence

It could not think anymore
Thoughts of times of sanity
The world was isolated
Where the sun would salute him
And the night was violent
Fear and guilt
Invade the corners of the room
Pain was felt constantly
They keep on destroying

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Epigrama

"Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada."


La Fontaine.



Madame Bovary (IV)

- Tenho uma religião, a minha religião, e até tenho mais que todos eles com as suas momices e imposturas! Pelo contrário, creio em Deus! Creio no Ser Supremo, num criador, seja Ele quem for, pouco importa, que nos pôs neste mundo para cumprir os nossos deveres de cidadãos e chefes de família; mas não tenho necessidade de ir a uma igreja beijar salvas de prata e engordar à minha custa uma cambada de farsantes que vivem melhor do que nós! posso honrar a Deus da mesma maneira num bosque, num campo, ou até contemplando a abóbada etérea, como os antigos. o meu deus é o mesmo de Sócrates, de Franklin, de
Voltaire e de Béranger! Eu sou pela profissão de fé do vigário saboiano e pelos princípios imortais de 89! Por isso não admito que deus seja assim um sujeito que anda a passear no seu jardim de bengala na mão, instale os seus amigos no ventre das baleias, morra soltando um grito e ressuscite ao cabo de três dias: Coisas absurdas por si mesmas e completamente opostas, além disso, a todas as leis da física; diga-se de passagem que tudo isso prova que os padres estagnaram sempre numa torpe ignorância, onde se esforçam por atolar também as populações.

Madame Bovary (III)

Mas era principalmente às horas das refeições que já não podia mais, naquela pequena sala do rés-do-chão, com o fogão a deitar fumo, a porta a ranger, as paredes a ressumar, as lajes húmidas; parecia-lhe que no seu prato era servida toda a amargura da sua existência e, com o fumegar do cozido, subiam-lhe do fundo da alma outros vapores de tédio.

Madame Bovary (II)


Nos seus desejos, ela confundia as sensualidades do luxo com as alegrias do coração, a elegância dos costumes com as delicadezas do sentimento. Não precisaria o amor, como as plantas da Índia, de terrenos preparados, de uma temperatura determinada? Os suspiros ao luar, os abraços prolongados, as lágrimas correndo sobre as mãos que se abandonam, as febres da carne e a languidez da ternura não podem pois separar-se da varanda dos grandes palácios onde há muito tempo de lazer, ou de uma antecâmara com reposteiros de seda e uma espessa alcatifa, jardineiras bem enfeitadas e um leito sobre um estrado, ou ainda do cintilar das pedras preciosas e dos alamares das librés.

sábado, 11 de setembro de 2010

Antes Ébrio

Enquanto Baco me possui,
Os meus desgostos dormem, sós.
Mais rico julgo-me que os Cresos
E desafio em canto e voz:
Deitado e de heras coroado,
Desprezo a todo o desprazer.
Quem lá quiser que se arme de ódios
Porque eu prefiro é bem beber!...
Traz-me uma taça, ó moço escravo!
Que, certamente, há mais conforto
E é bem melhor se estar deitado
Por estar ébrio do que morto!
 
 
Anacreonte

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Amor é síntese

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese

É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

Mário Quintana

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A raposa e o gato

Um dia, o gato encontrou a raposa no bosque e disse para si mesmo: vou cumprimentá-la. Ela é tão inteligente, tão experiente, tão respeitada por todo mundo...

E fez uma saudação amigável:

— Bom dia, querida Dona Raposa! Como tem passado? Como tem levado a vida, agora que as coisas andam tão caras?

A raposa ficou inchada de orgulho. Olhou o gato de alto a baixo e levou algum tempo para resolver se respondia ou não.

Finalmente disse:

— Dobre a língua, seu patife lambedor de bigodes, seu palhaço de meia-tigela, seu pilantra caçador de ratos, você não se enxerga? Quem você pensa que é? Como ousa me perguntar como eu tenho passado? Quem é você? Que é que você sabe? O que aprendeu? Que artes domina?

— Só uma — respondeu o gato, modestamente.

— E qual é, se mal pergunto?

— Quando os cachorros correm atrás de mim, consigo escapar, subindo numa árvore.

— Só isso? — disse a raposa. — Pois eu sou senhora de mil artes e além disso tenho um monte de truques que dariam para encher um baú... Fico de coração apertado só de pensar como você é indefeso. Venha comigo, vou lhe ensinar a escapar dos cachorros.

Justamente nesse momento, apareceu um caçador com quatro cachorros. O gato deu um pulo rápido para o tronco de uma árvore e foi lá para cima, para o meio da copa, onde as folhas e os galhos o esconderam por completo.

— Abra o baú, Dona Raposa, abra o baú! — gritava o gato.

Mas não adiantou nada. Os cachorros já tinham agarrado a raposa, que estava bem presa e imóvel nas patas deles.

— Que pena, Dona Raposa! — disse o gato. — Veja a encrenca em que a senhora está, com todas as suas mil artes. Se pelo menos soubesse subir em árvores, como eu, salvava sua vida...

O livro das ignorãças

I

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:

a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Porque é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toda de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre dois jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre dois lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro
etc
etc
etc
desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.


Uma didática da invenção, O livro das ignorãças. Manoel de Barros.

O fardo dos dias...

E haveria punição maior para ela que carregar durante toda sua vida o fardo de ser quem era?

Madame Bovary

Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, lhe haviam parecido tão belas.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A arte de Amar


“Lança mão de todos os recursos para a conquista. Não terás muito trabalho para seres acreditado: qualquer uma se julga digna de ser amada; por mais feia que seja, não há uma que não aprecie a própria beleza.”
 
....

“Não prometas com timidez: as promessas é que prendem as mulheres; invoca o testemunho de todos os deuses que quiseres.”

Ovídio

Pensamentos

Ao escrever o meu pensamento, ele às vezes me escapa; mas isso me faz lembrar da minha fraqueza, que a todo instante esqueço; isso me instrui tanto quanto o meu pensamento esquecido, pois minha tendência consiste apenas em conhecer o meu nada.



Blaise Pascal.
“É mais vergonhoso desconfiar dos amigos que ser por eles enganado.”

 LA ROCHEFOUCAULD

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dúvida Cruel


Composição: Chico César / Itamar Assumpção

No meu cérebro crepita
uma dúvida martelo
minha alma se agita aflita
tragédia grega desdita
flagelo dor pesadelo.

Arranca os meus cabelos
e como se fosse praga
adaga no cotovelo
golpeia meu cerebelo
o meu coração esmaga.

Será que ela me ama
e tudo isso terá nexo
ou será que não passará
só de mesa fama sexo?

Será que terá nexo
será que ela me ama
ou será que não passará
só de sexo mesa fama?


Cada dia gosto mais do trabalho de Chico César... estou conhecendo aos poucos e me apaixonando sempre mais!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Oscar Wilde [8]


"Dorian, não se iluda. A vida não é regida pela vontade
ou pela intenção. A vida é uma questão de nervos, e fibras, e
células que se formam lentamente, e onde o pensamento se
oculta e a paixão constrói os seus sonhos. Você pode
imaginar-se seguro, e considerar-se forte. Mas a tonalidade
ocasional de um quarto ou de um céu matutino, um certo perfume
de que um dia gostou e que traz consigo subtis recordações, um
verso de um poema esquecido que reencontrou, a cadência de uma
música que deixou de tocar... são essas as coisas, Dorian, de
que dependem as nossas vidas."

O Retrato de Dorian Gray




Estamos irremediavelmente presos ao passado
Que será feito de nós sem as lembranças que nos acompanham?
Que seremos nós sem arrastar os fantasmas que nos dão vida e motivo para não soltarmos as tábuas que nos empurram para o fundo do oceano?
Se nos tiram os grilhões que nos prendem ao passado que motivo teremos para lamentar ou nos deliciar?
Viver realmente é arte e ofício para poucos...talvez para os fortes...talvez para os bobos.

Karolyne Gilberta

Oscar Wilde [7]

Gostaria que me dissesse o seu segredo. Para reaver a minha juventude, eu faria tudo no mundo, excepto ginástica, levantar-me cedo, ou ser uma pessoa respeitável.








*somos dois.
=D

Oscar Wilde [6]


A alma é uma realidade terrível.
Pode ser comprada, e vendida, e negociada. Envenenada ou
aperfeiçoada. Existe uma alma em cada um de nós. Eu sei.

Surto psicótico "a sombra" de O. W.

Parece que tive um surto psicótico e não consigo parar de postar trechos do livro de Oscar Wilde "O Retrato de Dorian Gray".
A questão é o livro é denso e interessantíssimo. Me tomou mais tempo do que eu esperava na leitura do mesmo, mas me deixou extremamente satisfeita ao chegar ao suposto "fim da linha"/ fim do llivro. Não gosto de coisas óbvias e o livro em questão não é óbvio. Cheio de discussões filosóficas subjetivamente embutidas ao longo do texto é possível ver como Oscar Wilde se projeta em sua obra. Um homem pensante em uma obra que nos levar a pensar junto.
Compondo o grupo dos que foram proibidos de circular e de ser lidos à época da publicação me fascinou desde o início. Adoro livros do tipo. Me dão uma sensação de "transgressão", ainda que tardia.
Na sequência da leitura do livro fui atrás da biografia do autor.
Não gosto de coisas prévias.
Apesar de conhecer trechos de obras dele nunca fui atrás do motivo que o fazia trilhar esse tipo de literatura (coisa de gente que supostamente estuda história: quase tudo tem um porquê). Uma biografia carregada de situações turbulentas. Cheias de carga emocional.
Só me fez ficar mais encantada pela obra e pelo autor.


Deliciei-me de fato.
Acho que é mais ou menos isso.
=)

Tem que acontecer



Tem Que Acontecer

Sérgio Sampaio
 
Composição: Sérgio Sampaio


Não fui eu nem Deus
Não foi você nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida
É pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa
Não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor
É solidão
Se um vai perder
Outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida
E ninguém vai mudar

Eu daria tudo
Pra não ver você cansada (zangada)
Pra não ver você calada (cansada)
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou (sou só) um compositor popular. 





E nao é que blog ajuda a gente a descobrir o verdadeiro compositor das músicas??
Adoro Sérgio Sampaio mas juro que não sabia que essa música era dele. Conhecia por causa do Líricas de Zeca Baleiro mesmo. Boa oportunidade para mim.
^.^

Oscar Wilde [5]

Todo efeito que causamos nos arranja um inimigo. Só é popular a medíocridade.

Oscar Wilde [4]


Mordeu o lábio, apreensivo, por momentos, o olhar entristeceu-se. Mas, afinal, que lhe importava isso? A vida era demasiado curta para sobrecarregar os ombros com os erros dos outros. Cada um vivia a sua vida, e pagava o seu preço por vivê-la. Só era pena que se tivesse de pagar tantas vezes por um único erro. Na verdade, pagava-se vezes sem conta. Nos seus negócios com o homem, o Destino nunca dava as contas por encerradas.
Existem momentos, segundo os psicólogos, em que a paixão pelo pecado, ou por aquilo a que o mundo  chama pecado, domina de tal modo um temperamento que cada fibra do corpo, assim como cada célula do cérebro, parece estar possuída de impulsos temíveis. Em momentos desses, os homens e as mulheres perdem o livre-arbítrio. Encaminham-se, como autómatos, para um fim terrível. É-Lhes retirada a possibilidade de escolha, e a consciência é morta, ou, se conseguir sobreviver, vive unicamente para dar sedução à rebeldia, e encanto à desobediência. Pois todos os pecados, como os teólogos não se cansam de nos lembrar, são pecados da desobediência. Quando esse espírito supremo, essa estrela da manhã do mal, caiu do céu, foi como rebelde que caiu.



O Retrato de Dorian Gray.

Oscar Wilde [3]


- Eu agora nunca aprovo nem reprovo nada.
É uma atitude absurda que se toma em relação à vida.
Não fomos postos neste mundo para divulgar
os nossos preconceitos morais.
Nunca presto atenção ao que dizem as pessoas vulgares,
e nunca interfiro no que fazem as pessoas encantadoras.

Oscar Wilde [2]


Hoje as pessoas temem-se a si próprias. Esqueceram o mais nobre de todos os deveres: o dever que cada um tem para consigo mesmo.
É certo que não deixam de ser caritativos. Dão de comer aos que têm fome e vestem os pobres. Mas as suas almas andam famintas e nuas. A coragem desapareceu da nossa raça. Ou talvez nunca a tivéssemos tido. O temor da sociedade, que é a base da moral, o temor de Deus, que é o segredo da religião - eis as duas coisas que nos governam.


O Retrato de Dorian Gray.

Oscar Wilde


Mas a beleza, a verdadeira beleza, acaba onde começa a expressão intelectual. O intelecto é em si uma forma de exagero e destrói a harmonia de qualquer rosto. Assim que nos sentamos a pensar, ficamos todos nariz, todos testa, ou outra coisa horrenda. Veja esses homens que triunfam em qualquer profissão intelectual. São completamente hediondos! Com excepção, evidentemente, dos homens da Igreja. Mas é que os da Igreja não pensam. Um bispo continua a dizer aos oitenta anos aquilo que lhe mandaram dizer aos dezoito e, como consequência natural, ele mantém-se sempre uma pessoa encantadora. Esse seu jovem amigo tão
misterioso, cujo nome você nunca me revelou, mas cujo retrato me deixa verdadeiramente fascinado, nunca pensa. Tenho absoluta certeza. É uma dessas criaturas belas, sem inteligência, que devia estar sempre aqui no Inverno, quando não temos flores para contemplar, e sempre aqui no Verão, quando necessitamos de algo que nos refresque a inteligência.

O Retrato de Dorian Gray


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Meio Bethânia



Dolorida, ressentida, desconfiada, falsamente desapaixonada.
Acordarei Bethânia, quem sabe.
Lasciva...
Será melhor assim...

Karolyne Gilberta

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Parte coração

Parte Coração
Aprende que tua missão nessa vida é sofrer
Pobre coração
Dói no fundo do peito
Dizendo que existe
Mostrando que insiste em sofrer, em sofrer

Chore e bate mais forte
E as vezes mais manso
Que eu mesmo não canso
de me apaixonar

Bata e se dê o direito de gostar de alguém
Que eu dou um jeito de gostar também
Sou teu companheiro até no sofrer
mas vê se de vez em quando, em vez de chorar
você ri um pouco que é pra compensar
toda essa tristeza que é de nós dois

Parte Coração
Aprende que tua missão nessa vida é sofrer
Pobre coração
Dói no fundo do peito
Dizendo que existe
Mostrando que insiste em sofrer, em sofrer

Chore e bate mais forte
e as vezes mais manso
que eu mesmo não canso
de me apaixonar

bata e se dê o direito de gostar de alguém
que eu dou um jeito de gostar também
sou teu companheiro até no sofrer
mas vê se de vez em quando, em vez de chorar
você ri um pouco que é pra compensar
toda essa tristeza que é de nós dois

bata e se dê o direito de gostar de alguém
que eu dou um jeito de gostar também
sou teu companheiro até no sofrer
mas vê se de vez em quando, em vez de chorar
você ri um pouco que é pra compensar
toda essa tristeza que é de nós dois.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa. 
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer. 
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. 
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia. 
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados. 
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos. 
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento. 
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada. 
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos. 
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão. 
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria. 
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas. 
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas. 
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade. 
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. 
O
amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.