quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Madame Bovary (IV)

- Tenho uma religião, a minha religião, e até tenho mais que todos eles com as suas momices e imposturas! Pelo contrário, creio em Deus! Creio no Ser Supremo, num criador, seja Ele quem for, pouco importa, que nos pôs neste mundo para cumprir os nossos deveres de cidadãos e chefes de família; mas não tenho necessidade de ir a uma igreja beijar salvas de prata e engordar à minha custa uma cambada de farsantes que vivem melhor do que nós! posso honrar a Deus da mesma maneira num bosque, num campo, ou até contemplando a abóbada etérea, como os antigos. o meu deus é o mesmo de Sócrates, de Franklin, de
Voltaire e de Béranger! Eu sou pela profissão de fé do vigário saboiano e pelos princípios imortais de 89! Por isso não admito que deus seja assim um sujeito que anda a passear no seu jardim de bengala na mão, instale os seus amigos no ventre das baleias, morra soltando um grito e ressuscite ao cabo de três dias: Coisas absurdas por si mesmas e completamente opostas, além disso, a todas as leis da física; diga-se de passagem que tudo isso prova que os padres estagnaram sempre numa torpe ignorância, onde se esforçam por atolar também as populações.

Nenhum comentário: