quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Oscar Wilde [4]


Mordeu o lábio, apreensivo, por momentos, o olhar entristeceu-se. Mas, afinal, que lhe importava isso? A vida era demasiado curta para sobrecarregar os ombros com os erros dos outros. Cada um vivia a sua vida, e pagava o seu preço por vivê-la. Só era pena que se tivesse de pagar tantas vezes por um único erro. Na verdade, pagava-se vezes sem conta. Nos seus negócios com o homem, o Destino nunca dava as contas por encerradas.
Existem momentos, segundo os psicólogos, em que a paixão pelo pecado, ou por aquilo a que o mundo  chama pecado, domina de tal modo um temperamento que cada fibra do corpo, assim como cada célula do cérebro, parece estar possuída de impulsos temíveis. Em momentos desses, os homens e as mulheres perdem o livre-arbítrio. Encaminham-se, como autómatos, para um fim terrível. É-Lhes retirada a possibilidade de escolha, e a consciência é morta, ou, se conseguir sobreviver, vive unicamente para dar sedução à rebeldia, e encanto à desobediência. Pois todos os pecados, como os teólogos não se cansam de nos lembrar, são pecados da desobediência. Quando esse espírito supremo, essa estrela da manhã do mal, caiu do céu, foi como rebelde que caiu.



O Retrato de Dorian Gray.

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