sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Três anos. Aos três anos, o sujeito começa a inventar o mundo. Minha família morava na praia. E eu começava a inventar o mundo. Primeiro, foi o mar. Não, não. Primeiro, inventei o caju selvagem e a pitanga brava.
Para os meus três anos, o mar, antes de ser paisagem, foi cheiro. Não era concha, nem espuma. Cheiro. Meu pai, antes de ser figura, gesto, bengala ou pura palavra, também foi cheiro. Ninguém tinha nome na minha primeira infância. A estrela-do-mar não se chamava estrela, nem o mar era mar.


Nelson Rodrigues.
Trecho do conto Era bonito ser histérica da obra O Óbvio Ululante.


Saudades do tempo em que as coisas não tinham nome.
Que eram cheiros, sons, gosto ou só existiam em minha imaginação.
Estou precisando de férias de coisas e pessoas! Nada contra ninguém!
Precisando de muita fé em Deus! De menos ou nenhum rótulo... tanta coisa que a gente precisa e não se decide por ter, por ser....

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