Maria, anda cá!
Nua e sem pudor,
ou com um tímido tremor,
mas dá-me o encanto dos teus lábios que nunca murcharão:
o meu coração nunca chegou a Maio,
na vida vivida
nunca passou de Abril.
Maria!
O poeta canta sonetos a Tiana,
e eu –
todo de carne,
todo humano –
só peço o teu corpo
como os cristãos pedem
“o pão nosso de cada dia
nos dai hoje”.
Maria – dá!
Maria !
Tenho medo de o teu nome esquecer,
como teme olvidar o poeta
a palavra
nascida no martírio nocturno
grande só como Deus.
Teu corpo
cuidarei e amarei,
como o soldado
mutilado na guerra,
inútil
e sem dono,
cuida da única perna.
Maria –
não queres?
Não queres?
Ah !
Quer dizer que de novo sombria e tristemente
pegarei no coração,
salpicado de lágrimas,
e o levarei
como um cão
que para a casota
arrasta
a pata atropelada.
Com sangue do meu coração ficará manchado o caminho
como com flores de fogo lançadas à poeira.
Mil vezes bailará o Sol à volta da Terra
como a filha de Herodes
à volta da cabeça do Baptista.
E quando os meus anos
bailem até ao fim –
cobrir-se-á com milhões de gotas de sangue
o caminho até à morada de meu pai.
Sairei então
sujo (de dormir nas sargetas),
e ponho-me a seu lado,
inclino-me
e digo-lhe ao ouvido:
- Escuta, senhor Deus !
Como é que não te aborreces
nessa gelatina de nuvens
deitando água todos os dias dos teus olhos bondosos ?
Sabes uma coisa ?
Vamos construir um carrocel
na árvore da sabedoria do Bem e do Mal.
Omnipresente, estarás em todos os armários,
e pomos à mesa uns vinhos e tais
que incitem a bailar
o taciturno apóstolo S. Pedro.
E de Ervas encheremos de novo o paraíso:
uma palavra tua, -
e esta mesma noite
pelas ruas juntarei
as mais belas raparigas.
Trecho do poema A nuvem de calças de Vladimir Maiakóvski.
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