quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Madamme Bovary (VII)

Léon torturava-se para descobrir a maneira de lhe fazer a declaração, e, hesitando sempre entre o medo de lhe desagradar e a vergonha de ser tão pusilânime, chorava de desânimo e de desejo ao mesmo tempo. Depois tomava decisões enérgicas, escrevia cartas que rasgava em seguida, marcava datas que depois protelava. muitas vezes, metia-se a caminho com o projecto de se atrever a tudo, mas depressa abandonava a resolução na presença de Emma e, quando Charles, ao chegar, o convidava a subir para a carruagem e ir com ele ver algum doente nos arredores, aceitava imediatamente, despedia-se de Emma e partia. O marido não era, afinal, qualquer coisa que fazia parte dela?
Quanto a Emma, não se interrogava a si mesma para saber se o amava. O amor, segundo acreditava, devia surgir de repente, com grande tumulto e fulgurações - tempestade dos céus que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como folhas e arrebata para o abismo o coração inteiro. Não sabia que, nos terraços das casas, a chuva forma lagos quando as goteiras estão entupidas, e assim vivia confiada na sua segurança,quando subitamente descobriu uma fenda na parede.

Um comentário:

Franck disse...

Madame Bovary, deu uma vontade urgente de reler...
Bjs e uma boa noite!