quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Madamme Bovary (VIII)

Emma, porém, vivia cheia de desejos, de raiva, de ódio. Aquele vestido de pregas escondia um coração revoltado e aqueles lábios tão pudicos não confessavam o seu tormento. Ela estava apaixonada por Léon e procurava a solidão para poder mais à vontade deleitar-se com a sua imagem. a visão da sua pessoa perturbava a volúpia daquela meditação. Emma palpitava ao ruído dos seus passos, depois, em presença dele, desfazia-se-lhe a emoção e, a seguir, só lhe ficava um imenso espanto, que terminava em tristeza.

[...]Então, os apetites da carne, as cobiças do dinheiro e as melancolias da paixão, tudo se confundia num mesmo sofrimento, e, em vez de procurar afastar daí o pensamento, ainda mais se prendia ao mesmo, excitando-se à dor e procurando para isso todas as ocasiões. Irritava-se com um prato mal servido ou com uma porta entreaberta, lastimava-se pelo veludo que lhe faltava, pela felicidade que não tinha, por as suas aspirações serem demasiado elevadas e por a casa ser acanhada de mais.
O que a exasperava é que Charles não dava a impressão de suspeitar do seu suplício. a convicção que ele tinha de a fazer feliz parecia-lhe um insulto imbecil e a segurança que revelava a esse respeito ingratidão. Por causa de quem se comportava ela tão escrupulosamente?

Um comentário:

Franck disse...

VIndo lê-la e acompanhar a saga dessa Madame... Voltarei!
Um beijo e um bom fim de semana!