sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um sorriso



 Todas as boas lembranças que tinha para contar faziam-na rememorar um sorriso.
Não um sorriso grande e barulhento como os que costumava ofertar ao mundo, era um sorriso tímido, daqueles de canto de boca. Um sorriso que surge de dentro para fora; que começa na alma atinge o coração e fica dividido entre os lábios e os olhos. Aqueles sorrisos de gente boba, apaixonada, de quem quer ocultar ao mundo a profusão de sentimentos que borbulham dentro de si. Um sorriso que vacila entre “se apresentar mulher” ou deixar falar a menina que habita inquieta em seu ser.
Mas o sorriso que se lembrara durante o banho naquele dia era um desses sorrisos e ainda tinha um “Q” a mais. Era uma de suas melhores lembranças, um de seus “melhores” sorrisos.
Em seu início nem tinha ideia que lembrar-se-ia dele mesmo com o passar do tempo, mesmo com a distância que havia entre ela e aquele que lhe provocara aquele sorriso... Só sabia naquele dia, só percebera naquele banho que possuía recordações nítidas do momento que dera origem a ele.
Rememorava agora as cores das luzes que a rodeavam na fatídica noite, das conversas que aconteciam entre os membros da mesa, mas, que ela preferia não prestar atenção para tentar dominar o “bate-boca” interior; dos cheiros que se esbarravam, pois, estes eram muitos. Haviam as bebidas, haviam os perfumes, haviam ainda as essências corporais de cada um. Recordava-se ainda da música que tocava e como sua insistência havia lhe rendido a companhia do dono do sorriso na dança de pelo menos metade das músicas...
Não se lembrava de uma noite que tivesse dançado tanto e tão alegremente ao lado de um parceiro. Estava extasiada, apaixonada e embevecida! Não se recordava de haver dormido ou não naquela noite tamanha era a euforia que tinha dominado seu ser naqueles instantes, mas, tinha a angustiante certeza que não dormiria ressuscitando aquelas suaves e doces lembranças.
Tinha que admitir: aquela havia sido uma noite feliz!Só doía-lhe admitir isso depois que todo o encanto e magia seqüenciais ao primeiro sorriso, que se seguiram de muitos outros, obviamente, tinham se perdido no tempo e espaço atropelados pela carruagem desenfreada que é a vida!

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