quarta-feira, 25 de junho de 2014

Dos dias em que sou a própria tempestade

No dia que nascera havia sol lá fora, mas chovia dentro de si.
Já passava do meio do dia e a luz era intensa lá fora.
Viera tomada por emoções que se desenvolveram enquanto ainda era feto crescendo no útero da mãe:
E elas sacudiam-na.
Desde o começo de sua eternidade, tinha um verdadeiro temporal em seu interior.
Em seus deságues veio primeiro a família,
esta que ocupava-lhe o íntimo e suas devoções iniciais.
Não era nem gente, mas sentia que era importante ocupar dos outros e de suas dores.
Depois vieram os(as) amigos(as) e roubaram-lhe a outra metade daquilo que era.
Agora já era preciso que se desdobrasse para dar conta de ser completa.
Por fim, foram chegando-lhe os amores e ela dividiu-se mais uma vez.
Agora já era três,
Mas ainda era uma.
Tudo a compunha.
Com o tempo dissolveu-se a distinção de quem era família, amigos(as), amores... e a tríade voltou a refazer-se numa coisa só.
Todos os dias vinha novamente a chuva,
às vezes, aparecia um arco-íris aqui ou acolá ao fim dos ventos, das nuvens e das águas que corriam.
Concluiu que aquilo nada mais era que o amor fazendo morada em seu corpo
e um medo imenso de um dia acordar e ter se ido todo esse amor de dentro de seu ser.
Medo de esvaziar-se.
De tanto sonhar intranquila,
tantos e tantos dias materializava a chuva que corria em seu estômago
e os dias, como aquele que acabara de nascer, amanheciam nublados e com torrentes d’água a desabar
do céu-azul-de-sua-boca
sobre a terra seca do sertão.


Karolyne Gilberta

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