Com
uma naturalidade que lhe é peculiar a rubra rosa se abre aos olhos dos homens e
do mundo. Dá voltas e voltas em torno de suas próprias partes. Forma quase um
labirinto ao redor de si. Pensa sempre que seu autoconhecimento é insuficiente.
Uma enternecida inveterada pede abraços e retribui com vigor. Deixa-se ser
agarrada ao mesmo tempo em que agarra e crava os dentes em quem se aconchega em
suas dobras. Ela canta. Às vezes músicas ternas, quase cantigas de ninar, mas
quando em fúria, canta músicas agressivas, músicas de libertação. Sibila de
alegria a maior parte de seus dias. É uma dançarina também. Faz artes e
artimanhas. Em suas danças, tem muita alegria em receber aqueles que convida
para lhe fazerem par. Acredita que fala muito, mas quase sempre diz coisas
impróprias, inadequadas. Quando úmida se contrai, fica frenética, tremula tal
qual bandeira agitada pelo vento. Desesperada, procura em quem se agarrar. Nessas
horas assume um cheiro meio amadeirado, outra dose doce também e abandona seu
estado liquefeito tornando-se algo quase cremoso. Tão suave. Gosta de estar
acompanhada. Deseja quase sempre assim estar. Já foi muito ferida e hoje é um
tanto melancólica, mas mesmo assim não deixou que os olhos ficassem rasos. Só permite-se
profundezas. Há dias que fica tão rubra que jorra sangue, meio que chorando por
sua condição de estrada de entrada e saída do mundo.
Texto inspirado em "Os monólogos da Vagina" de Eve Ensler.
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