quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Rosa Rubra

Com uma naturalidade que lhe é peculiar a rubra rosa se abre aos olhos dos homens e do mundo. Dá voltas e voltas em torno de suas próprias partes. Forma quase um labirinto ao redor de si. Pensa sempre que seu autoconhecimento é insuficiente. Uma enternecida inveterada pede abraços e retribui com vigor. Deixa-se ser agarrada ao mesmo tempo em que agarra e crava os dentes em quem se aconchega em suas dobras. Ela canta. Às vezes músicas ternas, quase cantigas de ninar, mas quando em fúria, canta músicas agressivas, músicas de libertação. Sibila de alegria a maior parte de seus dias. É uma dançarina também. Faz artes e artimanhas. Em suas danças, tem muita alegria em receber aqueles que convida para lhe fazerem par. Acredita que fala muito, mas quase sempre diz coisas impróprias, inadequadas. Quando úmida se contrai, fica frenética, tremula tal qual bandeira agitada pelo vento. Desesperada, procura em quem se agarrar. Nessas horas assume um cheiro meio amadeirado, outra dose doce também e abandona seu estado liquefeito tornando-se algo quase cremoso. Tão suave. Gosta de estar acompanhada. Deseja quase sempre assim estar. Já foi muito ferida e hoje é um tanto melancólica, mas mesmo assim não deixou que os olhos ficassem rasos. Só permite-se profundezas. Há dias que fica tão rubra que jorra sangue, meio que chorando por sua condição de estrada de entrada e saída do mundo.


Karolyne Gilberta
Texto inspirado em "Os monólogos da Vagina" de Eve Ensler. 

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