quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"Vagina"

"Vagina!" Pronto, eu disse. "Vagina!" — disse de novo. Tenho dito esta palavra o tempo todo nos últimos três anos. Já a disse em teatros, em faculdades, em salas de estar, em cafés, em jantares, em programas de rádio. Tenho dito "Vagina!" por todo o país. Já teria dito "Vagina!" na televisão se alguém deixasse. Eu digo "Vagina" 128 vezes todas as noites durante o meu show, Os Monólogos da Vagina, baseado em entrevistas com mais de duzentas mulheres de diversos grupos sobre as vaginas delas. Já disse "Vagina!" enquanto dormia. E digo porque ninguém espera que eu diga. E digo porque se trata de uma palavra invisível — uma palavra que desperta ansiedade, alerta, desprezo e nojo.
Eu digo a palavra porque acredito que aquilo que não dizemos nós também não vemos, não reconhecemos
ou lembramos. O que não dizemos se transforma num segredo, e segredos, muitas vezes, criam vergonha, medos e mitos. Eu digo a palavra invisível porque quero dizê-la um dia sem sentir vergonha ou culpa. Quero dizê-la com tranqüilidade.


Trecho da introdução de "Os monólogos da vagina" de Eve Ensler.
Leitura séria que recomendo para tod@s. Afinal, precisamos nos conhecer para nos reconhecer.

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