Por sua cara e jeito de mulher
madura, sempre acreditaram que era uma moça experiente desde nova, mesmo assim
só deu o primeiro beijo depois dos 14 anos (apesar de ter fingido por muito tempo que já tinha feito
aquilo antes várias e várias vezes). Não fazia questão que pensassem diferente.
Deixava que acreditassem naquilo que seus olhos queriam enxergar. Até se sentia
mais confortável para ser quem era assim.
Perdeu a virgindade com 18 anos e,
como toda moça “ingênua”, acreditou que aquele seria seu primeiro e último
homem. Achou aquela uma noite bonita, mas, com menos de dois meses passados
lembrava muito vagamente daquela experiência. Só se lembrava que envolvia
rosas, venda e luzes apagadas. Uma tentativa do primeiro namorado "sério" de ser romântico, ao
que parece.
Culpava-se por ele não conseguir
ficar de pau duro nas outras vezes que transaram. Achava que aquilo era fruto
de sua inexperiência... Vai ver que ela não sabia fazer as coisas que ele
precisava na cama. Chorava dias e noites por isso. E passou muito tempo nessa
angústia até que ele lhe contasse que a achava “tanta coisa” que não conseguia
ficar a vontade na cama com ela, e, diante da expectativa broxava antes mesmo
de começar. Chorou outras vezes mais. Era tão apaixonada por ele que aquele
ficou sendo um detalhe secundário até que as coisas se ajeitassem com o passar
do tempo. Confiava nisso com todas suas forças.
Com o tempo as coisas pareceram se ajeitar,
mas, tinha a sensação de que faltava algo em sua vida sexual, só não sabia o
que ainda. E assim carregou por anos esse relacionamento frustrado e confuso. Ia
ficando ali na esperança que um dia as coisas se ajeitassem... aquela esperança
que continuava perseguindo-a. Era triste, mas ao mesmo tempo reconfortante. Se não
tinha tudo que precisava ou desejava no relacionamento, tinha ao menos aquela
esperança de que as coisas se resolvessem um dia, mas ainda assim chorava. Era
choro escondido pelos cantos da casa da sogra ou mesmo no banheiro do quarto de
motel.
Não se reconhecia. Eram os ciúmes, a
instabilidade, a crueldade latente, o abandono que tinha cometido com os amigos
em nome desse relacionamento, as brigas, o mal costume de atingir o outro com
palavras duras... cruéis. De tantos desencontros, tanta frustração, decepção e
desamor chegou o dia que criou coragem e decidiu-se pela libertação: pôs fim ao
relacionamento doentio e foi viver a vida com tudo que tinha direito e vontade.
Sofreu, chorou mais, tentou voltar atrás, mas em pouco tempo entendeu que
aquilo era bom. Fazia-lhe bem poder estar longe do que lhe deixara doente.
Nesse processo de busca conheceu tantas
pessoas novas, reconquistou amizades perdidas a custa dessa “doença”,
estabeleceu laços com outro(a)s que nunca imaginou que conheceria, viajou para
muitos lugares, se permitiu ser livre, ser leve... estar solta. Descobriu que o
mundo tinha uma cor tão viva que nunca tinha sequer suposto antes. E aquelas cores
eram a coisa mais linda que já tinha visto. Viver era a coisa mais inebriante
que poderia experimentar. Era ao mesmo tempo doce, ácido, suave, inesperado e
intempestivo. Entendeu também que tinha que se descobrir ou redescobrir, não
sabia ao certo. Um processo que levaria tempo, mas que valeria cada segundo
gasto nessa busca interior. Mudou de cidade, foi morar só e se jogou com
vontade nas oportunidades. Foi então que descobriu o prazer do sexo. Nunca imaginou
que uma coisa não estivesse junto com a outra. Sexo sem prazer? Seria possível?
Tinha sido possível durante anos em sua vida. Triste constatação.
Uma pergunta passou a martelar sua
cabeça sem dar tréguas: como podia ter demorado tanto para viver o gozo em sua
máxima plenitude? Passeou por várias camas tentando descobrir aquilo e aquele
que lhe agradava. Como era bom se sentir... Sentir os prazeres do sexo... Ter
companheiros que apreciavam sua companhia e queriam descobrir consigo o
delicioso mundo do sexo com final feliz. Moldou seu caráter a partir de suas
experiências. Mudou o cabelo cor e tamanho. Ousou. Abandonou os falsos pudores
e moralismos. Sentiu falta de algumas
experiências, mas espera na certeza que tudo tem seu tempo.
Karolyne Gilberta.
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