segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Uma história como outra qualquer


Por sua cara e jeito de mulher madura, sempre acreditaram que era uma moça experiente desde nova, mesmo assim só deu o primeiro beijo depois dos 14 anos (apesar de ter fingido por muito tempo que já tinha feito aquilo antes várias e várias vezes). Não fazia questão que pensassem diferente. Deixava que acreditassem naquilo que seus olhos queriam enxergar. Até se sentia mais confortável para ser quem era assim.
Perdeu a virgindade com 18 anos e, como toda moça “ingênua”, acreditou que aquele seria seu primeiro e último homem. Achou aquela uma noite bonita, mas, com menos de dois meses passados lembrava muito vagamente daquela experiência. Só se lembrava que envolvia rosas, venda e luzes apagadas. Uma tentativa do primeiro namorado "sério" de ser romântico, ao que parece.
Culpava-se por ele não conseguir ficar de pau duro nas outras vezes que transaram. Achava que aquilo era fruto de sua inexperiência... Vai ver que ela não sabia fazer as coisas que ele precisava na cama. Chorava dias e noites por isso. E passou muito tempo nessa angústia até que ele lhe contasse que a achava “tanta coisa” que não conseguia ficar a vontade na cama com ela, e, diante da expectativa broxava antes mesmo de começar. Chorou outras vezes mais. Era tão apaixonada por ele que aquele ficou sendo um detalhe secundário até que as coisas se ajeitassem com o passar do tempo. Confiava nisso com todas suas forças.
Com o tempo as coisas pareceram se ajeitar, mas, tinha a sensação de que faltava algo em sua vida sexual, só não sabia o que ainda. E assim carregou por anos esse relacionamento frustrado e confuso. Ia ficando ali na esperança que um dia as coisas se ajeitassem... aquela esperança que continuava perseguindo-a. Era triste, mas ao mesmo tempo reconfortante. Se não tinha tudo que precisava ou desejava no relacionamento, tinha ao menos aquela esperança de que as coisas se resolvessem um dia, mas ainda assim chorava. Era choro escondido pelos cantos da casa da sogra ou mesmo no banheiro do quarto de motel.
Não se reconhecia. Eram os ciúmes, a instabilidade, a crueldade latente, o abandono que tinha cometido com os amigos em nome desse relacionamento, as brigas, o mal costume de atingir o outro com palavras duras... cruéis. De tantos desencontros, tanta frustração, decepção e desamor chegou o dia que criou coragem e decidiu-se pela libertação: pôs fim ao relacionamento doentio e foi viver a vida com tudo que tinha direito e vontade. Sofreu, chorou mais, tentou voltar atrás, mas em pouco tempo entendeu que aquilo era bom. Fazia-lhe bem poder estar longe do que lhe deixara doente.
Nesse processo de busca conheceu tantas pessoas novas, reconquistou amizades perdidas a custa dessa “doença”, estabeleceu laços com outro(a)s que nunca imaginou que conheceria, viajou para muitos lugares, se permitiu ser livre, ser leve... estar solta. Descobriu que o mundo tinha uma cor tão viva que nunca tinha sequer suposto antes. E aquelas cores eram a coisa mais linda que já tinha visto. Viver era a coisa mais inebriante que poderia experimentar. Era ao mesmo tempo doce, ácido, suave, inesperado e intempestivo. Entendeu também que tinha que se descobrir ou redescobrir, não sabia ao certo. Um processo que levaria tempo, mas que valeria cada segundo gasto nessa busca interior. Mudou de cidade, foi morar só e se jogou com vontade nas oportunidades. Foi então que descobriu o prazer do sexo. Nunca imaginou que uma coisa não estivesse junto com a outra. Sexo sem prazer? Seria possível? Tinha sido possível durante anos em sua vida. Triste constatação.
Uma pergunta passou a martelar sua cabeça sem dar tréguas: como podia ter demorado tanto para viver o gozo em sua máxima plenitude? Passeou por várias camas tentando descobrir aquilo e aquele que lhe agradava. Como era bom se sentir... Sentir os prazeres do sexo... Ter companheiros que apreciavam sua companhia e queriam descobrir consigo o delicioso mundo do sexo com final feliz. Moldou seu caráter a partir de suas experiências. Mudou o cabelo cor e tamanho. Ousou. Abandonou os falsos pudores e moralismos. Sentiu falta de algumas experiências, mas espera na certeza que tudo tem seu tempo. 



Karolyne Gilberta.

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