segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O país do carnaval

Paulo Rigger aproximou-se.
- Mademoseille...
- Mademoseille, não. Julie, sim.
- Ah, Júlia, você é adorável!
- Só isso que você me diz? Isso me disseram todos aqueles rapazes que me galantearam há pouco. Eu pensei que você tivesse qualquer coisa mais nova para me dizer...
- Sim, tenho. Quero lhe dizer que os seus olhos prometem coisas absurdas, mas eu conheço todas as coisas absurdas e duvido muito que me dê qualquer coisa nova.
- Hoje à uma hora. A porta de meu camarote estará aberta... Esperá-lo-ei.
No seu camarote Paulo Rigger pensava se devia ir ao encontro de Julie. Uma grande lassidão invadia-lhe os membros. Pensou em Julie. E teve medo dos seus olhos. Não, não iria. Aquela mulher era capaz de se agarrar a ele como uma sarna no Brasil. E, ademaos, não passava de uma rameira conhecida. Uma mulher que amava por dinheir, sem amor. Que lhe poderia dar de novo? Prazer, ele conhecia muito. Carne... Mas o amor talvez não fosse somente carne... Talvez fosse alguma coisa mais... Essa outra coisa, ele não conhecia. Afirmava até que ela não existia. Existisse ou não, a francesinha não lha poderia dar. Daria somente o sexo... E do mesmo modo de sempre. Bolas! Não iria lá...
E Julie esperou por toda a noite, nua, a sonhar volúpias incríveis. Depois, chorou de raiva, mordendo o travesseiro... Por fim xingava-o, era um animal. Não sabia que ela reservara para ele as carícias que nunca vendera a ninguém... Imbecil!
E Paulo Rigger sonhava que tinha uma namorada romântica que lia Henri Ardel e tocava valsas muito sentimentais no piano.
No outro dia, o grito da descoberta:
- Terra! Terra!
Lá longe, o País do Carnaval.

Jorge Amado.

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